Acordos de cooperação envolvem agências de fomento, empresas britânicas e 26 universidades (imagem: deformação de cristal / University of Warwick)

FAPESP e Reino Unido apoiam 400 projetos de pesquisa colaborativa em 10 anos
11 de fevereiro de 2019
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Acordos de cooperação envolvem agências de fomento, empresas britânicas e 26 universidades. FAPESP Week London começa nesta segunda com destaques de pesquisas colaborativas entre brasileiros e britânicos

FAPESP e Reino Unido apoiam 400 projetos de pesquisa colaborativa em 10 anos

Acordos de cooperação envolvem agências de fomento, empresas britânicas e 26 universidades. FAPESP Week London começa nesta segunda com destaques de pesquisas colaborativas entre brasileiros e britânicos

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Acordos de cooperação envolvem agências de fomento, empresas britânicas e 26 universidades (imagem: deformação de cristal / University of Warwick)

 

Claudia Izique  |  Agência FAPESP – Há 10 anos, pesquisadores paulistas e britânicos investigam juntos temas tão diversos como a resposta imunológica contra a zika, a cronologia da ocupação dos povos indígenas do tronco linguístico Jê; o impacto da produção do biogás, ou ainda a utilização de cavernas na camada do pré-sal para armazenar o CO2 encontrado nos poços de petróleo.

Essa colaboração é resultado de acordos de cooperação firmados pela FAPESP com o UK Research & Innovation (UKRI) – agência britânica de fomento à pesquisa com a qual a Fundação mantém acordo de cooperação desde 2009 –, com o Conselho Britânico, o Fundo Newton e empresas britânicas no Brasil – como a GlaxoSmithKline (GSK), a Shell e a AstraZeneca/MedImmune –, além de 26 universidades do Reino Unido. A FAPESP financia pesquisadores paulistas e os parceiros, os pesquisadores britânicos, engajados no mesmo propósito de pesquisa.

“O Reino Unido tornou-se o principal parceiro em pesquisa para os projetos da FAPESP. Em boa parte, isso aconteceu porque quando a FAPESP iniciou sua estratégia para colaboração internacional, em 2007, o Reino Unido mobilizou suas principais organizações, como os Conselhos de Pesquisa (agora UKRI), o Conselho Britânico e as universidades, inclusive por meio do Fundo Newton. Isso favoreceu as interações”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

De 2009 ao início de 2019, à FAPESP coube conceder 400 Auxílios à Pesquisa, a maioria deles (229) nas modalidades Auxílios Regulares e apoios à Vinda de Pesquisadores Visitantes (69) e à Organização de Reuniões Científicas (56), aos quais estiveram vinculadas 80 bolsas no período. No âmbito desses Auxílios destacam-se 22 Projetos Temáticos, modalidade que se traduz em pesquisa colaborativa com propósitos ousados, com financiamento de até cinco anos. 

 Fonte: BV/FAPESP

 
Fonte: BV/FAPESP

O avanço dessa colaboração pode ser medido também pelo número de artigos publicados em coautoria por pesquisadores paulistas e do Reino Unido, que cresceu 173% de 2010 a 2016, de acordo com o Incites Thomson Reuters 2016. Entre 2016 e 2018, a mesma fonte registra um total de 5.611 artigos publicados em coautoria, atrás apenas das publicações em parceria com pesquisadores norte-americanos.

“O número de projetos em colaboração com pesquisadores cresceu substancialmente e as publicações científicas em coautoria, além de crescerem em quantidade, resultam em impacto científico três vezes superior àquele obtido pelas publicações das duas regiões isoladamente”, sublinha Brito Cruz.

 Fonte: Fonte: Incites Thomson Reuters

Vários pesquisadores paulistas e britânicos, parceiros de pesquisa e de publicações, se reunirão nos dias 11 e 12 de fevereiro, na FAPESP Week London, realizada no âmbito do UK-Brazil Year of Science and Innovation (YoSI) 2018-2019 (saiba mais sobre o evento em: www.fapesp.br/week2019/london).

Parcerias estratégicas

A parceria com o UKRI resultou em 25 editais conjuntos por meio dos quais foram selecionados 75 projetos financiados pela FAPESP e por instituições vinculadas à agência britânica: Biotechnological and Biological Sciences Research Council (BBSRC), Economic and Social Research Council (ESRC), Natural Environment Research Council (NERC), Medical Research Council (MRC).

Apoiados pela FAPESP e pelo MRC, por exemplo, João Santana da Silva, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), e Daniel Altman, do Imperial College London, no Reino Unido, com a colaboração de William Kwok, do Benaroya Research Institute, dos Estados Unidos, mapeiam a resposta imunológica humana contra o vírus zika.

Um dos primeiros desafios foi identificar quais peptídeos virais são reconhecidos pelas células de defesa e induzem uma resposta imunológica. “Já chegamos a alguns peptídeos importantes, capazes de induzir a resposta imune ao zika”, disse João Santana da Silva, pesquisador principal do projeto. O estudo demonstrou também que a “reatividade cruzada” do vírus zika com outras viroses é “imensa”. “Isso dificulta o diagnóstico sorológico”, disse (saiba mais sobre o projeto em https://bv.fapesp.br/pt/auxilios/99303).

Além de chamadas conjuntas de proposta, o acordo com o UKRI prevê a possibilidade de os pesquisadores dos dois países submeterem projetos em fluxo contínuo à FAPESP e ao Arts and Humanities Research Council (AHRC), ESRC, BBSRC, MRC, NERC, Science and Technology Facilities Council (STFC), além de BBSRC Pump Priming Award (FAPPA).

Paulo Dantas de Blasis, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, e José Iriarte, da University of Exeter, por exemplo, obtiveram apoio da FAPESP e do AHRC, respectivamente, para produzir uma consistente cronologia dos povos Jê, que habitam a região entre o sul de São Paulo e o norte do Rio Grande do Sul desde tempos pré-históricos brasileiros (1.200 anos) até os tempos atuais – deles descendem os índios da etnia Kaingang e Laklãno/Xokleng.

O estudo documentou o modo de vida sedentário daquela população milenar, a domesticação de plantas, o uso de objetos cerâmicos e até a ocupação dual – cerimonial e residencial – de algumas áreas (saiba mais em https://bv.fapesp.br/pt/auxilios/82868/ e http://revistapesquisa.fapesp.br/2017/02/13/agricultores-e-sedentarios/).

Colaboração consolidada

Nesses 10 anos de parceria, a interação entre pesquisadores do Estado de São Paulo e do Reino Unido estreitou-se com o estabelecimento de novos acordos de cooperação entre a FAPESP e o Conselho Britânico – o primeiro foi firmado em 2005 – para o apoio à organização de encontros de grupos de pesquisas dos dois países com vistas à cooperação futura. A partir de 2009, com o ingresso de recursos do Fundo Newton no suporte à pesquisa, a colaboração entre os dois países se consolidou.

O Fundo Newton é uma iniciativa britânica para a promoção do desenvolvimento econômico e social de países parceiros por meio do apoio à pesquisa, ciência e tecnologia. O aporte de recursos é intermediado por organizações no Reino Unido – UKRI, Conselho Britânico, UK Academies, Innovate UK, Royal Society – e por instituições de países parceiros. No Brasil, o primeiro parceiro do Fundo Newton nessa área foi a FAPESP, seguida pelo Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap).

Reinaldo Giudici, da Escola Politécnica da USP, e Adam Hawkes, do Imperial College London, por exemplo, têm apoio da FAPESP e do NERC/UKRI, com recursos do Fundo Newton, para produzir um amplo estudo técnico-econômico e ambiental dos processos de produção de biogás integrada ao contexto da indústria sucroalcooleira.

“No âmbito do microcosmo, ou seja, de uma biorrefinaria, as pesquisas envolvem a modelagem matemática e o estudo da dinâmica do processo de produção de bioetanol e sua integração com o desempenho bioquímico dos processos de biodigestão anaeróbia dos resíduos deste processo [vinhaça, palha etc.] para produção de biogás”, explica Giudici.

Esta integração, ele acrescenta, permitirá ampliar o leque de produtos da biorrefinaria (bioetanol, energia elétrica oriunda da caldeira com queima do bagaço e sistema de cogeração e biogás), os quais devidamente acoplados à infraestrutura de distribuição (etanoldutos, rede elétrica, gasodutos) poderão atender as demandas do mercado consumidor de maneira mais eficiente.

“Nesse sentido, no nível do macrocosmo, ou seja, olhando o quadro mais amplo do sistema energético paulista e brasileiro, estão sendo estudadas projeções de demanda de energia para diferentes setores; identificação de gargalos de infraestrutura para atender às demandas futuras de energia; modelos de previsão para características de eletricidade e gás que considerem variações sazonais, uso da terra, sequestro de carbono, qualidade da água e água potável e impactos ecológicos da produção de biogás.”

A colaboração entre os dois países tem se mostrado profícua. No ano passado, o projeto, desenvolvido por Juliano Coelho da Silveira, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, em Pirassununga, em parceria com Niamh Forde, da University of Leeds, esteve entre os finalistas do Prêmio Newton 2018, em sua primeira edição para a América Latina.

O prêmio é concedido aos melhores projetos de ciência e inovação que consigam demonstrar uma contribuição ao desenvolvimento social e econômico dos países parceiros do Fundo Newton.

O projeto, que teve como objetivo investigar vesículas extracelulares e gerar amostras biológicas para a análise do desenvolvimento de embriões, foi selecionado em chamada da FAPESP com o Confap, no Brasil, e com a Academy of Medical Sciences, a British Academy, a Royal Academy of Engineering e a Royal Society, no Reino Unido.

Acordos multilaterais

Os acordos da FAPESP com o UKRI, reforçados pelo Conselho Britânico e Fundo Newton, ampliaram as possibilidades de parceira em pesquisa e acabaram por atrair também a atenção das universidades britânicas. Entre 2009 e 2019, o número de universidades com as quais a FAPESP mantém acordos de cooperação saltou de um para 26.

Pedro Henrique Cury Camargo, do Instituto de Química da USP, e Edman Tsang, da Universidade de Oxford, por exemplo, investigam nanopartículas metálicas plasmônicas (NPs) suportadas em semicondutores e suas aplicações em fotocatálise, especialmente na geração de hidrogênio por quebra de moléculas de água. A colaboração combina a expertise de Camargo em sintetizar nanopartículas metálicas com forma e tamanho controlados com a de Tsang, de catálise e caracterização. A colaboração iniciou em outubro de 2017 e estará concluída no final de 2019.

Além da cooperação bilateral, pesquisadores britânicos e brasileiros também participam de projetos colaborativos, que articulam esforços multilaterais de pesquisa, no âmbito do programa São Paulo Researchers in International Collaboration (Sprint), uma espécie de seed fund para apoiar o intercâmbio de pesquisadores.

Gabriel Teixeira Landi, do Instituto de Física da USP, e Mauro Paternostro, da Queen´s University Belfast, na Irlanda, por exemplo, tiveram sua proposta de pesquisa selecionada na 2ª chamada Sprint de 2017. Eles vão estudar a termodinâmica quântica de não equilíbrio, abordando o conceito de irreversibilidade.

O objetivo é construir teoricamente novas medidas de produção de entropia e aplicá-las a problemas paradigmáticos. Além de universidades britânicas, o mesmo edital selecionou projetos colaborativos de pesquisadores brasileiros com cientistas de instituições da Austrália, Espanha, Estados Unidos e França.

Centros de Pesquisa em Engenharia

Entre os acordos firmados pela FAPESP com empresas britânicas, destacam-se os firmados com a BG E&P Brasil Ltda., que posteriormente se tornou subsidiária do Grupo Shell, e com a GlaxoSmithKlein (GSK).

A parceria com a então BG, firmada em 2013, resultou na criação de dois Centros de Pesquisa em Engenharia (CPEs) da FAPESP: o Centro de Pesquisa para Inovação em Gás (RCGI) – para o desenvolvimento de investigações estratégicas, com financiamento de longo prazo e, posteriormente, em parceria com a Shell, foi criado o Centro de Inovação em Novas Energias (CINE).

O RCGI, com sede na Escola Politécnica da USP – instituição selecionada em edital conjunto da FAPESP e a empresa –, tem como missão investigar o uso sustentável do gás natural, biogás, hidrogênio e a gestão, transporte, armazenamento e uso de CO2.

Um dos destaques de pesquisa aponta uma solução para um dos obstáculos da exploração de petróleo na área do pré-sal: a utilização de um sistema que separa por gravitação o dióxido de carbono (CO2) do gás metano que se encontram misturados nos poços de petróleo em cavernas construídas na camada de sal, com capacidade de armazenamento de até 8 milhões de toneladas de CO2 (leia mais em http://agencia.fapesp.br/29037/).

O CINE, constituído em 2018, tem como parceiros a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a USP e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). O Centro tem como missão desenvolver novos dispositivos de armazenamento de energia com emissão zero de gases de efeito estufa e que utilizem como combustível fontes renováveis, além de novas rotas tecnológicas para converter metano em produtos químicos.

A parceria com a GSK também se desdobrou na constituição de dois CPEs: o Centro de Excelência para Pesquisa em Química Sustentável (CERSusChem) e o Centro de Excelência para Descoberta de Alvos Moleculares (CENTD).

O CERSusChem, com sede na UFSCar, está voltado para a pesquisa de produtos e processos químicos sustentáveis que possam ser utilizados na descoberta e no desenvolvimento de novos medicamentos, e o CENTD, com sede no Instituto Butantan, investiga alvos moleculares e vias de sinalização envolvidas em doenças de base inflamatória.
 

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