Depois de tomarem beta-alanina por 28 dias, voluntários tiveram aumento na eliminação de substâncias tóxicas do músculo esquelético após exercício físico. Descoberta pode auxiliar no tratamento de doenças causadas por estresse oxidativo (foto: Skeeze / Pixabay)
Voluntários tomaram beta-alanina por 28 dias e tiveram aumento na eliminação de toxinas do músculo esquelético após exercício físico. Descoberta pode auxiliar no tratamento de doenças causadas por estresse oxidativo
Voluntários tomaram beta-alanina por 28 dias e tiveram aumento na eliminação de toxinas do músculo esquelético após exercício físico. Descoberta pode auxiliar no tratamento de doenças causadas por estresse oxidativo
Depois de tomarem beta-alanina por 28 dias, voluntários tiveram aumento na eliminação de substâncias tóxicas do músculo esquelético após exercício físico. Descoberta pode auxiliar no tratamento de doenças causadas por estresse oxidativo (foto: Skeeze / Pixabay)
André Julião | Agência FAPESP – Um suplemento alimentar bastante utilizado por atletas tem participação importante na produção de carnosina no músculo esquelético. A substância produzida ajuda a eliminar aldeídos reativos, moléculas que podem comprometer a estrutura e a função do DNA e de proteínas.
A ação do suplemento, um aminoácido chamado beta-alanina, foi observada por pesquisadores brasileiros pela primeira vez no músculo esquelético. Os resultados foram publicados em um estudo na revista Redox Biology.
O fenômeno foi observado após a administração da beta-alanina em atletas após uma prova de esforço intenso. A carnosina se liga a aldeídos como a acroleína e forma os chamados adutos. A presença deles mostra que a carnosina está combatendo as substâncias tóxicas.
Um estudo anterior mostrou que adutos carnosina-acroleína eram encontrados na urina de adultos não fumantes, mas ainda não se sabia onde exatamente eles eram formados.
O trabalho publicado agora é resultado da colaboração entre pesquisadores da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) e do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo (USP), que fazem parte do Centro de Pesquisa em Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP.
“A carnosina encontrada no músculo dos atletas mostra o efeito benéfico do exercício físico, já que ele provoca a eliminação de substâncias tóxicas”, disse Marisa Helena Gennari de Medeiros, professora do IQ e uma das coordenadoras do estudo.
Os pesquisadores coletaram amostras do músculo vasto lateral (localizado na coxa) de 14 ciclistas, antes e depois de 28 dias de suplementação com beta-alanina ou placebo.
Para o experimento, foi usado o desenho duplo-cego, em que nem os pesquisadores nem os voluntários sabiam previamente se o que estava sendo tomado era suplemento ou placebo. As amostras de músculo foram retiradas após testes de ciclismo intermitentes de alta intensidade, um teste bem conhecido na área de educação física.
“São 30 segundos em que o atleta faz seu esforço máximo”, disse Guilherme Giannini Artioli, professor da EEFE que chefiou o experimento. O trabalho é parte de seu projeto apoiado pelo Programa Jovens Pesquisadores da FAPESP. Nesse caso, foram quatro séries de pedalada intensa, com três minutos de pausa para recuperação entre elas.
Nova metodologia
As amostras, retiradas logo após o esforço físico intenso, foram analisadas por meio de uma metodologia ultrassensível e altamente específica, a cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC), acoplada à espectroscopia de massa em tandem. O método foi desenvolvido pelo grupo de Medeiros e é capaz de quantificar com precisão a carnosina e seus adutos no tecido e nos fluidos biológicos.
Os dados coletados mostraram que a beta-alanina aumentou o conteúdo de carnosina muscular em cerca de 50% em relação ao que foi coletado antes da suplementação. Além disso, nas amostras de músculo suplementado foi observado um aumento significativo da formação de adutos carnosina-acroleína após o exercício.
“O interessante é que nem o exercício sozinho nem apenas a suplementação aumentaram a formação de adutos. Isso mostra que a carnosina sequestra a acroleína no músculo esquelético, o que é importante para a detoxificação de aldeídos reativos gerados durante o exercício”, disse Medeiros à Agência FAPESP.
Ao reagir com algumas proteínas e com o DNA, os aldeídos reativos podem comprometer a estrutura e a função desses. Por isso, os resultados mostram não apenas que o suplemento gera um benefício real para os atletas que fazem uso dele, como abrem caminho para possíveis tratamentos de doenças caracterizadas por estresse oxidativo anormal, como distúrbios cardiovasculares, aterosclerose, Parkinson e Alzheimer.
“Agora podemos pensar a ação da carnosina não apenas no modelo fisiológico, que é o exercício físico, mas também em modelos patológicos em que há o aumento desses aldeídos reativos, seja por conta de tabagismo, exposição à poluição, diabetes e outras situações em que há um aumento do estresse oxidativo. É um potencial terapêutico a ser explorado”, disse Artioli.
O grupo planeja estudar os efeitos da suplementação com beta-alanina em um grupo de idosos.
“Com o envelhecimento da população, é importante termos recursos que contribuam para a melhora da força muscular de idosos. Além disso, a carnosina também pode ser eficaz para combater a dor crônica, associada ao acúmulo de aldeídos”, disse Medeiros.
O artigo Exercise and β-alanine supplementation on carnosine-acrolein adduct in skeletal muscle (doi: 10.1016/j.redox.2018.07.009), de Victor H. Carvalho, Ana H. S. Oliveira, Luana F. de Oliveira, Rafael P. da Silva, Paolo Di Mascio, Bruno Gualano, Guilherme G. Artioli e Marisa H. G. Medeiros, pode ser lido em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2213231718305408.
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