Pesquisadores do Instituto Evandro Chagas isolaram o vírus de equinos mortos por encefalite no Espírito Santo. Estudo foi apresentado na 70ª Reunião Anual da SBPC, em Maceió (foto: larvas de mosquitos Culex / James Gathany-CDC)
Pesquisadores do Instituto Evandro Chagas isolaram o vírus de equinos mortos por encefalite no Espírito Santo. Estudo foi apresentado na 70ª Reunião Anual da SBPC, em Maceió
Pesquisadores do Instituto Evandro Chagas isolaram o vírus de equinos mortos por encefalite no Espírito Santo. Estudo foi apresentado na 70ª Reunião Anual da SBPC, em Maceió
Pesquisadores do Instituto Evandro Chagas isolaram o vírus de equinos mortos por encefalite no Espírito Santo. Estudo foi apresentado na 70ª Reunião Anual da SBPC, em Maceió (foto: larvas de mosquitos Culex / James Gathany-CDC)
Elton Alisson, de Maceió | Agência FAPESP – O vírus do Nilo Ocidental chegou ao Brasil. Pesquisadores do Instituto Evandro Chagas (IEC), em Belém, anunciaram ter feito o primeiro isolamento em equinos de uma fazenda no Espírito Santo mortos por encefalite – inflamação do cérebro e das meninges – causada pelo vírus.
A descrição foi publicada na semana passada pelo sistema fast track – de publicação acelerada de artigos – na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. Um dos autores, Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, pesquisador do IEC, falou sobre o trabalho em palestra sobre arboviroses no Brasil na segunda-feira (23/07), na 70ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada no campus da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
O vírus do Nilo Ocidental é da mesma família do zika, também originário da África e transmitido por mosquitos. Entrou nas Américas pelos Estados Unidos, no fim da década de 1990, dispersou-se rapidamente naquele país e migrou para as Américas Central e do Sul.
“Desde que surgiram os primeiros casos de infecção pelo vírus do Nilo Ocidental nos Estados Unidos começamos a fazer um monitoramento de aves silvestres – que são os principais hospedeiros do vírus – a fim de tentar isolar esse vírus no Brasil, mas até então só tínhamos algumas evidências sorológicas”, disse Vasconcelos à Agência FAPESP.
“Agora, finalmente conseguimos isolá-lo de equinos de uma fazenda no Espírito Santo, cujos responsáveis notificaram a doença e morte dos animais por encefalite e pediram que fizéssemos o diagnóstico”, disse.
Os pesquisadores também sequenciaram o genoma completo do vírus isolado. As análises indicaram que o genótipo do vírus encontrado nos equinos é o mesmo do vírus do Nilo Ocidental que tem sido isolado nos Estados Unidos, além da Argentina e Canadá, onde também há relatos de infecção pelo vírus. “Isso mostra que o vírus se dispersou pelas Américas provavelmente por aves silvestres”, disse Vasconcelos.
De acordo com o pesquisador, o vírus do Nilo Ocidental entrou nas Américas pelo estado de Nova York. O zoológico da cidade importou uma série de animais – principalmente gansos, patos e marrecos – infectados pelo vírus de países como Israel.
Mosquitos Culex pipiens – “irmão” do Culex quinquefasciatus que ocorre no Brasil e transmite filária ou elefantíase – picaram esses animais e propagaram o vírus pelos Estados Unidos.
“O vírus do Nilo Ocidental se dispersou nos Estados Unidos de forma muito rápida. Ele entrou em 1999 pela Costa Leste do país, por Nova York, e começou a se espalhar rapidamente. Em 2002, praticamente toda a parte continental dos Estados Unidos registrava a presença do vírus”, disse Vasconcelos.
Depois dos Estados Unidos, começaram a surgir registros de casos de infecção pelo vírus na Argentina, México, Venezuela e no Brasil, onde em 2015 pesquisadores do IEC relataram o primeiro caso de infecção em humanos em um paciente no Piauí.
“Na América do Norte também há registro da transmissão do vírus do Nilo Ocidental em transplantes de órgãos, como córneas, rins e coração”, disse Vasconcelos.
A maioria dos casos de infecção de humanos pelo vírus são assintomáticos ou manifestam poucos sintomas, como febre, dores de cabeça, fadiga, dores musculares, náuseas, perda de apetite e rash cutâneo. Em 1% dos casos, contudo, o vírus afeta o sistema nervoso central e causa uma doença neurológica, que provoca inflamação do cérebro e das meninges e leva o paciente a óbito.
“Não esperamos que ocorram muitos casos de infecção grave por vírus do Nilo Ocidental no Brasil, como ocorreu nos Estados Unidos, por que lá não tem dengue, eles não se vacinam contra febre amarela e não há outros flavivírus que circulam imensamente no Brasil, como zika, chikungunya, dengue e febre amarela”, disse Vasconcelos.
Uma vez que a população brasileira tem muita imunidade para flavivírus e já se sabe que há uma reatividade cruzada entre eles, estima-se que a incidência de casos de infecção graves pelo vírus do Nilo Ocidental no Brasil será bem menor do que nos Estados Unidos, estima o pesquisador.
“O que pode acontecer no Brasil são pequenos surtos localizados, principalmente em áreas onde ainda não ocorreram ou aconteceram com menos frequência outras arboviroses, como a região Sul do país", disse.
O vírus do Nilo Ocidental, entretanto, pode ser uma grave ameaça à saúde animal no Brasil, especialmente para equinos e aves, ponderou o pesquisador. Nos Estados Unidos, por exemplo, foi registrada uma grande mortandade de corvos à medida que o vírus foi se estabilizando.
“No Brasil, poderemos ter uma expressiva mortandade também de aves e de animais de produção, como os equinos, a despeito de já existir uma vacina para combater a infecção pelo vírus do Nilo Ocidental em animais”, disse Vasconcelos.
O artigo First isolation of West Nile virus in Brazil, de Lívia Caricio Martins, Fernando da Costa Vasconcelos e outros, pode ser lido na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz em http://memorias.ioc.fiocruz.br/article/6488/0332-first-isolation-of-west-nile-virus-in-brazil.
A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.