Estudo feito na Famerp acompanhou 13 mulheres com diagnóstico confirmado da doença e detectou carga viral na urina por até sete meses, mas de forma intermitente (foto: Wikimedia)

Gestantes devem ser testadas mais de uma vez para a presença do Zika
03 de outubro de 2017
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Estudo feito na Famerp acompanhou 13 mulheres com diagnóstico confirmado da doença e detectou carga viral na urina por até sete meses, mas de forma intermitente

Gestantes devem ser testadas mais de uma vez para a presença do Zika

Estudo feito na Famerp acompanhou 13 mulheres com diagnóstico confirmado da doença e detectou carga viral na urina por até sete meses, mas de forma intermitente

03 de outubro de 2017
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Estudo feito na Famerp acompanhou 13 mulheres com diagnóstico confirmado da doença e detectou carga viral na urina por até sete meses, mas de forma intermitente (foto: Wikimedia)

 

Karina Toledo  |  Agência FAPESP – Testes moleculares para detecção do vírus Zika – que permitem identificar o material genético do patógeno em fluidos como sangue, urina, sêmen e saliva durante a fase aguda da infecção – têm sido usados rotineiramente no pré-natal de gestantes com sintomas da doença.

Apesar disso, um novo estudo sugere que o resultado negativo obtido em um único exame pode não ser suficiente para tranquilizar familiares e médicos. Feito no Brasil, o trabalho será publicado em novembro na revista Emerging Infectious Diseases.

“Acompanhamos um grupo de gestantes com diagnóstico confirmado de Zika e testamos sua urina ao longo de vários meses – com intervalos de aproximadamente uma semana. Em algumas dessas mulheres, a carga viral na urina sumia e depois voltava a aparecer”, disse Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) e coordenador da pesquisa apoiada pela FAPESP.

O trabalho incluiu 13 mulheres em diferentes estágios da gestação (de 4 a 38 semanas), atendidas no Hospital da Criança e Maternidade (HCM) de São José do Rio Preto, interior de São Paulo.

Segundo Nogueira, em uma das voluntárias foi possível detectar o vírus na urina por até sete meses. Em cinco mulheres, o resultado voltou a dar positivo para a presença do vírus mesmo após a carga ter zerado em exames anteriores. Em todos os casos, o patógeno desapareceu do organismo logo após o parto.

“Esses dados sugerem que, durante a gravidez, o vírus continua se replicando na criança ou na placenta – que servem de reservatório para o patógeno. Porém, a carga viral nos fluidos maternos é intermitente e muito baixa, quase no limiar da detecção”, disse Nogueira.

De acordo com o pesquisador, nos casos em que o resultado do teste molecular dá negativo, o ideal seria repetir o exame pelo menos mais duas vezes, com intervalos não inferiores a uma semana.

“Costumamos fazer esse tipo de exame com amostras de urina por ser mais fácil de obter e também porque no sangue a carga viral é ainda mais baixa e desaparece mais rapidamente”, disse.

Três das mulheres acompanhadas no estudo tiveram bebês com complicações provavelmente causadas pelo Zika – dois apresentaram alterações nos testes de audição e um nasceu com um cisto no cérebro.

Não foi possível estabelecer uma correlação entre o número de vezes que o vírus foi detectado na mãe e a ocorrência de desfechos adversos. “Para isso serão necessários novos estudos com um número maior de participantes”, disse Nogueira.

Teste polivalente

Um novo teste rápido que permite identificar em amostras de sangue tanto o vírus Zika como os quatro sorotipos do vírus da dengue durante a fase aguda da infecção foi descrito por um grupo internacional em artigo publicado recentemente na revista Science Translational Medicine, com coautoria de Nogueira.

Segundo os autores, o método tem baixo custo e não oferece risco de reação cruzada como outros testes. Composto por uma fita com anticorpos que muda de cor na presença de uma proteína viral conhecida como NS1, o teste imunocromatográfico foi desenvolvido no Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos.

A validação do método contou com a colaboração de instituições de pesquisa de diversos países, entre elas a Famerp. “Testamos em amostras de sangue de pacientes com diagnóstico confirmado tanto de dengue como de Zika atendidos no Hospital de Base de São José do Rio Preto”, disse Nogueira.

O trabalho foi conduzido no âmbito dos projetos "Estudo epidemiológico da dengue (sorotipos 1 a 4) em coorte prospectiva de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil, durante 2014 a 2018" e "Estudo clínico epidemiológico em coorte prospectiva de gestantes infectadas pelo vírus Zika em São José do Rio Preto", apoiados pela FAPESP. Também colaboraram cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais, da Universidade Federal de Sergipe, da Fiocruz e do Instituto Evandro Chagas.

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