Glória Teixeira, da UFBA, mostrou que intervenções ambientais e a preocupação com saneamento básico cresceram nos últimos anos (foto: E.Geraque)

Sentinelas da saúde
25 de junho de 2004

Em tempos de globalização, um fluxo de viajantes estimado em 500 milhões ao ano aumenta a complexidade das questões relacionadas com a saúde pública das grandes metrópoles, explica Glória Teixeira, da UFBA

Sentinelas da saúde

Em tempos de globalização, um fluxo de viajantes estimado em 500 milhões ao ano aumenta a complexidade das questões relacionadas com a saúde pública das grandes metrópoles, explica Glória Teixeira, da UFBA

25 de junho de 2004

Glória Teixeira, da UFBA, mostrou que intervenções ambientais e a preocupação com saneamento básico cresceram nos últimos anos (foto: E.Geraque)

 

Por Eduardo Geraque, de Olinda

Agência FAPESP - Nos anos 80, especificamente duas metrópoles brasileiras – e isso não significa que não tenha ocorrido o mesmo nas outras capitais – tiveram epidemias novas. No Rio de Janeiro, a Aids entrou pelo centro da cidade, via porto. Em Salvador, a populacão do insalubre bairro de Alagados sofreu com uma grande primeira epidemia de dengue em 1985. Os exemplos servem para mostrar que a vigilância em saúde pública no Brasil estava diante, apenas, da ponta de um iceberg.

No caso de Salvador, conforme mostrou a especialista em saúde pública Maria da Glória Teixeira, da Universidade Federal da Bahia, no 6º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, que ocorreu esta semana em Olinda (PE), intervenções ambientais e a preocupação com saneamento básico cresceram nos últimos anos por causa de problemas como o registrado nos anos 80. A questão do acesso à água, por exemplo, ainda é considerado essencial.

"Não basta apenas se voltar para o problema quando ele aparece nos jornais. O grande desafio que os profissionais de saúde pública das áreas metropolitanas precisam enfrentar é fazer com que medidas eficazes de controle e prevenção de epidemias virem rotina", disse a pesquisadora.

Estabelecer regiões na cidade que sirvam como verdadeiras sentinelas, por exemplo, é uma forma viável de se estabelecer uma rotina para o combate aos problemas de saúde coletiva. A própria cidade de Salvador, a partir de um programa de melhoria das condições de saneamento básico patrocinado pelo Estado, desenvolveu em alguns bairros essa filosofia das "áreas sentinelas".

No Rio de Janeiro, um estudo também apresentado em Olinda pela Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, mostrou que o caso da epidemia de Aids, que começou nos anos 80, ganhou ares ainda mais complexos nos últimos anos. Se antigamente a doença atingia grupo de risco definidos, como homens homossexuais, por exemplo, dados coletados na virada do milênio mostram que esse quadro se alterou de forma profunda.

Os quadros obtidos pelos pesquisadores do Governo Federal mostram que a Aids hoje, no Rio de Janeiro, se espalhou principalmente pelos bairros da Zona Norte da cidade, e de forma ampla, atingindo vários grupos sociais. Em termos de categorias socioeconômicas, as classes menos favorecidas também passaram a sofrer com grande intensidade com a doença.

Se a dengue e a Aids ganharam novas nuances em áreas metropolitanas brasileiras, o que torna cada vez mais complexo o combate e o controle dessas epidemias, a realidade de um mundo global, onde 500 milhões de pessoas atravessam as fronteiras de seus países todos os anos, está praticamente certo que o surgimento ou renascimento de doenças até certo ponto controladas será um fato concreto nos próximos anos, principalmente nas grandes zonas urbanas.

A lista tem nomes como leptospirose, leishmaniose tegumentar visceral, gripe e febre do nilo ocidental ,além de várias outras doenças que, assim como a Aids, estão se espalhando.


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