Em workshop em Leipzig, cientistas alemães e do BIOTA-FAPESP apontam desafios para a pesquisa sobre biodiversidade e a importância dos estudos internacionais (M.Meletti)

Conhecimento compartilhado
05 de maio de 2011

Em workshop em Leipzig, cientistas alemães e do BIOTA-FAPESP apontam desafios para a pesquisa sobre biodiversidade e a importância dos estudos internacionais

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Em workshop em Leipzig, cientistas alemães e do BIOTA-FAPESP apontam desafios para a pesquisa sobre biodiversidade e a importância dos estudos internacionais

05 de maio de 2011

Em workshop em Leipzig, cientistas alemães e do BIOTA-FAPESP apontam desafios para a pesquisa sobre biodiversidade e a importância dos estudos internacionais (M.Meletti)

 

Por Maria da Graça Mascarenhas, de Leipzig

Agência FAPESP – O Brasil e a Alemanha têm muita coisa em comum, além do futebol e do “fusca”, que é uma histórica relação cultural e científica bastante frutífera. “Martius [Carl Philipp von Martius (1794-1868)] e Humboldt [Alexander von Humboldt (1769-1859)] começaram um processo de cooperação internacional com o Brasil na área de biodiversidade que recentemente foi retomado, e o qual pretendemos avançar.”

A afirmação é do professor Matthias Schwarz, vice-reitor da Universidade de Leipzig, na Alemanha, na abertura do workshop Opportunities and Challenges of research Cooperations Brazil-Germany, que precedeu a cerimônia de abertura da exposição Brazilian Nature: Mistery and Destiny, no dia 29 de abril, naquela universidade. A exposição estará aberta ao público até 15 de julho.

“Existem questões que são desafios para a humanidade, como a mitigação das mudanças climáticas, a preservação da biodiversidade e energias alternativas. Todas elas só podem ser tratadas e enfrentadas por meio da colaboração da comunidade internacional de cientistas, de forma interdisciplinar”, disse Schwarz.

Nesse sentido, um importante foco da Universidade de Leipzig é a internacionalização e o desenvolvimento de pesquisa colaborativa em nível mundial.

“A estratégia da nossa universidade é criar redes de cientistas internacionais para enfrentar desafios internacionais na ciência. O que pressupõe envolver estudantes e criar uma geração de novos pesquisadores aberta e criativa, capaz de trabalhar com essa maneira internacional de fazer pesquisa”, disse.

Na cidade de Leipzig foi impressa a Flora Brasiliensis de von Martius. A Universidade de Leipzig, com 600 anos, é a segunda mais antiga da Alemanha e tem cerca de 30 mil estudantes. No caso específico da área de biodiversidade, pesquisadores da universidade ligados ao Instituto de Geografia e Biologia participam, há alguns anos, com apoio do Ministério de Educação e Pesquisa da Alemanha, de pesquisa colaborativa com pesquisadores brasileiros.

O projeto, “Dinâmica de paisagens e uso da terra em domínio de Mata Atlântica no Rio de Janeiro”, desenvolve-se em parceria com pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, por meio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão do Ministério do Meio Ambiente.

O coordenador geral da Universidade de Leipzig no projeto é o geógrafo Jürgen Heinrich e o coordenador científico o biólogo Dietmar Sattler, ambos do Instituto de Geografia e Biologia. Sattler foi o responsável pelo convite para a apresentação da exposição Brazilian Nature na universidade e pela realização do workshop.

“Ao oferecer a universidade para abrigar a exposição, vi uma oportunidade de promover a pesquisa brasileira em biodiversidade na Alemanha e a possibilidade de iniciar uma colaboração com pesquisadores do Programa BIOTA-FAPESP”, disse Sattler à Agência FAPESP.

“Trabalhamos com a Mata Atlântica no Rio de Janeiro e poderíamos ampliar o alcance da pesquisa. Afinal, a natureza não para nas divisas administrativas”, destacou.

Essa é também a opinião de Carlos Alfredo Joly, membro da coordenação do BIOTA-FAPESP, que participou do workshop falando sobre o programa e apresentando alguns resultados do seu Projeto Temático. O projeto fez o estudo da Mata Atlântica em um gradiente de altitude de 0 a 1.000 metros, do ponto de vista da composição da floresta, do estoque de carbono e nitrogênio e do ciclo de carbono e água entre a floresta e a atmosfera.

“A Alemanha poderá ser uma grande parceira em projetos de colaboração e intercâmbio dentro do BIOTA, porque existe uma grande tradição de cooperação nas áreas de botânica, zoologia e ecologia e existe interesse por parte das instituições de pesquisa (universidades e institutos) e agências de fomento”, disse o também diretor do Departamento de Políticas e Programas Temáticos (DPPT) da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Segundo Joly, o grupo da Universidade de Leipzig que tem trabalhado em Mata Atlântica basicamente no Rio de Janeiro poderia estar participando de projetos do BIOTA-FAPESP que trabalham com paisagens modificadas ou em áreas conservadas em região de Mata Atlântica.

“Alguns resultados obtidos pelo grupo no Rio de Janeiro poderiam ser comparados com os nossos obtidos em São Paulo, enriquecendo os estudos e o conhecimento”, afirmou.

Uso da terra

Luciano Verdade, também membro da coordenação do BIOTA-FAPESP, apresentou aos pesquisadores alemães alguns resultados da sua pesquisa “Ecologia e conservação de fauna em paisagens agrícolas no Estado de São Paulo”.

“As paisagens alteradas ainda têm uma diversidade grande, apesar dos impactos sofridos, e é um desafio conservar essa diversidade. Primeiro, devido ao desconhecimento, porque muito pouco estudo foi feito para isso. Segundo, porque temos que lidar com os diversos desafios do processo agrícola, de forma a reduzir seus impactos e aumentar o valor conservacionista dessas paisagens”, afirmou.

Segundo ele, o Estado de São Paulo tem cerca de 75% de paisagem agrícola. E as três principais culturas são a pecuária, a cana-de-açúcar e a silvicultura (eucalipto e pinus para a produção de papel e celulose). Há uma tendência de mudar a matriz de pasto para cana ou para eucalipto e essas mudanças na paisagem agrícola certamente irão alterar ambientes primitivos que estão ligados a ela.

“Em São Paulo já ocorreu a perda florestal. Hoje, a preocupação é a mudança do uso da terra, que afeta a maneira como as paisagens agrícolas se comportam e tem grande impacto sobre a diversidade biológica”, disse.

Por essa razão, o Centro-Sul brasileiro tem problemas muito mais semelhantes com a Europa do que com algumas regiões do Brasil. “A Europa passou por esse processo de fragmentação e perda de biodiversdade muitos séculos antes de esse processo ter início no Brasil. Na Alemanha não há mais área primitiva. São as paisagens agrícolas que têm diversidade biológica remanescente. Os pesquisadores alemães têm experiência com esses problemas e o intercâmbio pode nos ajudar”, disse Verdade.

Para Jürgen Heinrich, os pesquisadores alemães estão interessados nesses problemas e em pesquisas na área de biodiversidade. “O Brasil é um lugar muito interessante para entender o que está acontecendo neste momento sobre o impacto da ação do homem em áreas florestais e em encontrar um modo de realizar um desenvolvimento sustentável”, disse o geógrafo.

Segundo ele, entretanto, os problemas e as possibilidades de cooperação transcendem a área da biodiversidade e envolvem também mudança do uso da terra, erosão, deslizamentos, ocupação urbana desordenada. Nesse sentido, a participação de pesquisadores das áreas de ciências humanas é fundamental.

“Há alguns anos participei de estudo na cidade de Recife que buscava verificar a possibilidade de conciliar ambientes urbanos com a natureza. É uma questão importante para ser discutida no Brasil e encontrar soluções para esses problemas que estão relacionados com a ausência de planejamento urbano”, disse.
 

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