No Workshop Llama, realizado na sede da FAPESP, cientistas discutem construção de radiotelescópio que poderá facilitar acesso de pesquisadores brasileiros e argentinos ao Alma, o maior projeto astronômico da atualidade (Alma)

Radiotelescópios em rede
10 de agosto de 2011

No Workshop Llama, realizado na sede da FAPESP, cientistas discutem construção de radiotelescópio que poderá facilitar acesso de pesquisadores brasileiros e argentinos ao Alma, o maior projeto astronômico da atualidade

Radiotelescópios em rede

No Workshop Llama, realizado na sede da FAPESP, cientistas discutem construção de radiotelescópio que poderá facilitar acesso de pesquisadores brasileiros e argentinos ao Alma, o maior projeto astronômico da atualidade

10 de agosto de 2011

No Workshop Llama, realizado na sede da FAPESP, cientistas discutem construção de radiotelescópio que poderá facilitar acesso de pesquisadores brasileiros e argentinos ao Alma, o maior projeto astronômico da atualidade (Alma)

 

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – O Brasil e a Argentina poderão construir, em parceria, um novo radiotelescópio capaz de realizar pesquisas em todas as áreas da astronomia, além de estimular a cooperação dos cientistas dos dois países com o maior projeto astronômico em curso no mundo.

O tema foi debatido por dois dias consecutivos, na sede da FAPESP em São Paulo, durante o Workshop Llama. No evento, encerrado nesta terça-feira (9/8), representantes da comunidade científica ligada à astronomia defenderam a construção do Long Latin American Millimeter Array (Llama).

Durante o workshop, o professor Jacques Lépine, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), apresentou a palestra “Ciência e Tecnologia com o Llama”.

Segundo Lépine, o evento teve o objetivo de evidenciar que o projeto tem alta demanda na comunidade científica e que poderá trazer importantes resultados científicos em várias áreas da astronomia, além de aumentar a competitividade dos pesquisadores brasileiros e argentinos em relação à participação no projeto internacional Atacama Large Millimeter Array (Alma), que está sendo construído no Chile.

“O Alma é o maior projeto astronômico da atualidade, financiado pela União Europeia, Estados Unidos e Japão. A intenção é que o Llama fique a 200 quilômetros do Alma. Com isso, poderemos fazer interferometria entre os dois projetos – isto é, utilizá-los em rede a fim de obter maior resolução”, disse à Agência FAPESP.

De acordo com Lépine, o Llama terá uma antena de 12 metros de diâmetro instalada em território argentino, com orçamento inicial estimado em US$ 20 milhões. Já o Alma, cuja construção está prevista para o fim de 2013, consiste em um conjunto de 66 antenas de 12 metros espalhadas em uma área de cerca de 15 quilômetros no norte do deserto do Atacama, no Chile. O orçamento é de US$ 1,4 bilhão. Ambos os projetos serão instalados a cerca de 5 mil metros de altitude.

“Cada vez que o Alma fizer uma descoberta científica de grande interesse – e certamente serão muitas, no maior projeto astronômico da atualidade –, os pesquisadores poderão achar interessante fazer uma observação com uma resolução angular melhor. E o Llama vai estar lá para isso”, disse Lépine.

O Llama permitirá estudos em praticamente todas as áreas da astronomia, como estudos sobre o Sol e o sistema solar, a evolução das estrelas, o meio interestelar e as galáxias distantes. O Alma, que tem os mesmos objetivos científicos, deverá especialmente fornecer novas imagens do nascimento de estrelas, da formação de sistemas planetários e dados sobre as primeiras galáxias do universo.

“Haverá muita competição para a utilização do Alma e, com o Llama, os cientistas sul-americanos terão mais poder de barganha para conseguir aumentar seu tempo de utilização. Com um investimento de US$ 20 milhões, poderemos aumentar muito nossa participação em um grande projeto global de US$ 1,4 bilhão”, destacou Lépine.

A afirmação foi reiterada pelo diretor do Alma, Thij de Graauw , também presente no workshop. “O Llama seria sem dúvida a melhor oportunidade possível para que os pesquisadores brasileiros e argentinos possam participar das pesquisas no Alma”, afirmou.

Segundo Lépine, as bandas iniciais de operação do Alma serão de 84 a 116 gigahertz, de 221 a 275 gigahertz, de 275 a 373 gigahertz e de 602 a 720 gigahertz. O Llama deverá começar a operar na banda de 31 a 45 gigahertz.

“Os dados obtidos no Llama poderão ser refinados com o Alma, cujos pesquisadores também poderão utilizar o Llama para conseguir uma resolução angular melhor a fim de estudar detalhes sobre determinada descoberta”, disse.

Outra vantagem do Llama, segundo Lépine, é que ele será a semente de uma rede de radiotelescópios. “A longo prazo, o Alma vai exigir a instalação de antenas em vários países da região. O Llama poderá servir como o início de uma integração científica e tecnológica regional”, afirmou.

Demanda da comunidade científica

De acordo com Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, o workshop teve o papel de reunir a comunidade científica interessada para colocar em perspectiva a demanda para projetos como o Llama.

“Quando os cientistas nos procuram com ideias desse tipo, a primeira questão que levantamos é se há uma comunidade científica que irá se beneficiar disso em São Paulo ou no Brasil. Avaliamos não apenas o tamanho dessa comunidade, mas também até que ponto ela gera a expectativa de produzir ciência de alto impacto com o projeto em questão”, disse.

Para essa avaliação, segundo Brito Cruz, é preciso que os interessados mostrem que tipo de ciência estão fazendo, a fim de esclarecer qual o grau de desenvolvimento atual da ciência relacionada ao projeto.

“Dependendo do resultado do workshop, se acharmos que a proposta é significativa, com capacidade de chegar a bons resultados e gerar ciência de alto impacto, podemos estudar a abertura de uma proposta de pesquisa para esse tipo de ciência. O workshop é fundamental para pavimentar o caminho desse processo”, afirmou.

Marta Rovira, presidente do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Tecnológicas (Conicet), da Argentina, veio a São Paulo exclusivamente para participar do workshop. Ela apontou que a adesão ao projeto poderá estreitar ainda mais as colaborações científicas entre Brasil e Argentina.

“Trata-se de um projeto muito interessante de radioastronomia e as parcerias com o Brasil são sempre muito importantes. A relação acadêmica e científica entre Brasil e Argentina, em geral, é muito próxima. Não só em colaborações institucionais, mas com grupos de trabalho que atuam em parceria”, destacou.

Segundo ela, a comunidade científica argentina também demonstrou entusiasmo com o projeto. “Os pesquisadores da área de radioastronomia estão muito interessados e ficaram empolgados especialmente com a possibilidade de ter acesso aos instrumentos do Alma, que é um projeto grandioso”, disse.

Rovira explicou que o Conicet atua de maneira distinta da FAPESP. A instituição, que atua na esfera federal, não é dedicada a financiar pesquisa diretamente, mas contrata pesquisadores científicos e tecnológicos que têm vínculo com as universidades. O Conselho também oferece bolsas de doutorado.

“O Conicet tem quase 150 institutos espalhados em todo o país. São entidades temáticas que reúnem gente que se dedica a temas semelhantes. Nos institutos há técnicos e funcionários, incluindo o pessoal administrativo, que pertence ao Conicet. Mas, diferentemente da FAPESP, o fomento à pesquisa não é o mais importante. O orçamento é utilizado principalmente para pagar os salários”, explicou.

Caso o projeto Llama seja aprovado, o lado brasileiro deverá financiar a construção da antena, enquanto o lado argentino deverá providenciar o local e fornecer a infraestrutura, incluindo a construção de estradas, telecomunicações e pequenos prédios.
 

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