Segundo sumário executivo do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas foi divulgado no Rio de Janeiro (foto: Wilson Dias/ABr)

Mudanças climáticas no Brasil devem trazer prejuízo e pobreza
29 de outubro de 2013

Segundo sumário executivo do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas foi divulgado no Rio

Mudanças climáticas no Brasil devem trazer prejuízo e pobreza

Segundo sumário executivo do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas foi divulgado no Rio

29 de outubro de 2013

Segundo sumário executivo do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas foi divulgado no Rio de Janeiro (foto: Wilson Dias/ABr)

 

Por Fred Furtado, do Rio de Janeiro

Agência FAPESP – Secas mais intensas, prejuízo na agricultura, diminuição do pescado, reformulação da matriz energética – esses são alguns dos impactos que as mudanças climáticas devem gerar no Brasil. E os mais afetados serão os brasileiros de classes econômicas menos favorecidas.

Esse é o cenário descrito no sumário executivo do Grupo de Trabalho 2 (GT2) do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), divulgado sexta-feira (25/10) na Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), no Rio de Janeiro. O documento aborda os impactos das mudanças climáticas nos sistemas naturais e socioeconômicos, bem como suas consequências, além de opções de adaptação ao novo cenário.

“Esse relatório mostra que os impactos já estão acontecendo e é preciso tomar decisões quanto a isso de imediato. Quanto mais se espera, maior e mais caro fica o problema”, afirmou Suzana Kahn, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente do comitê científico do PBMC.

Para ela, o relatório também fornece elementos para que os governantes brasileiros planejem suas respostas de maneira a diminuir os impactos e os custos, bem como para melhorar a inclusão social. “Quem sempre sofre mais e tem menos chance de se adaptar é a população pobre”, declarou Kahn.

O primeiro sumário executivo do Relatório de Avaliação Nacional (RAN1) do PBMC foi divulgado no dia 6 de agosto durante a 1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais (Conclima), organizada pela FAPESP, em São Paulo (leia mais em http://agencia.fapesp.br/17840).

Recursos hídricos

A água é um elemento-chave na questão dos impactos das mudanças climáticas. Segundo o sumário divulgado na sexta-feira, as alterações nos regimes de chuva devem levar a secas e enchentes mais frequentes e intensas, podendo também ter impacto sobre a recarga de águas subterrâneas.

As taxas de vazão dos rios também sofrerão variação. No leste da Amazônia e no Nordeste, as perdas podem chegar a 20%, sendo que na bacia do Tocantins o valor é de 30%. Já na do Paraná-Prata, a expectativa é de aumento de 10% a 40%.

“É um problema muito sério. Segundo a Agência Nacional de Águas, mais de 2 mil municípios terão problema de abastecimento de água em 2015”, alertou Eduardo Assad, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e coordenador do GT2.

Nas áreas costeiras, o aumento do nível do mar deve intensificar as inundações e os processos erosivos. Além disso, o aumento da temperatura e da acidificação dos oceanos deverá ter impacto negativo sobre os ecossistemas marinhos e sobre a pesca.

“Podemos ter uma perda no volume de pescado de 6%, em média. Imaginem quantas famílias de pescadores serão atingidas”, observou Assad. O estudo prevê ainda a perda de biodiversidade em ecossistemas aquáticos e terrestres, levando ao desaparecimento ou à fragmentação de hábitats .

Agricultura e energia

A atividade agrícola tende a ser afetada diretamente pelas mudanças climáticas. Com o aumento da temperatura e a redução da quantidade de água, áreas de baixo risco para a agricultura vão se tornar de alto risco, perdendo valor e forçando a população rural local a migrar para os centros urbanos.

“No Ceará, por exemplo, isso pode acarretar uma redução de até 60% no produto interno bruto agrícola e no valor das terras”, ressaltou o coordenador do GT2.

Outro problema sério são os efeitos sobre pragas e doenças que atacam as culturas. A alta de temperatura e umidade serão condições ideais para a eclosão de fungos.

Já o setor energético pode ser afetado de diversas formas pelas mudanças climáticas. Segundo Assad, é necessário ampliar a matriz energética, pois haverá problemas na geração de energia hidrelétrica em razão das alterações na oferta de água.

Para ele, a abertura para alternativas energéticas mais limpas ainda é tímida, enquanto há estímulo para fontes como gás de xisto e termelétricas a carvão. “Onde estão os incentivos para as energias solar, eólica e de marés? Continuamos insistindo na vanguarda do conservadorismo energético”, destacou.

Cidades e saúde

As cidades também serão bastante afetadas, com alguns fenômenos já em andamento, como os deslizamentos de encosta e os alagamentos causados por deficiências no sistema de drenagem urbano.

“Não preciso lembrar o que vai acontecer em janeiro e fevereiro no Rio de Janeiro e em Salvador. Nenhuma atitude foi tomada nos últimos anos para resolver esse problema”, criticou Assad.

Em termos de transporte, o modal utilizado pelo país estaria totalmente equivocado, principalmente o urbano, de acordo com o documento. Mudar isso, especialmente no quesito transporte de carga, faria o Brasil dar um grande salto na emissão de gases de efeito estufa.

Na questão de saúde humana, o país estaria extremamente vulnerável por conta de ondas de calor e de frio, que estariam relacionadas a uma maior mortalidade. Essas condições também podem ser ideais para a proliferação de vetores de doenças tropicais, como mosquitos, levando a uma expansão de males como a dengue.

Para o coordenador do GT2, reduzir os problemas relacionados à água, bem como à subsistência e à pobreza são igualmente críticos. “Essas são ações prioritárias que o Brasil tem que atacar. Para isso, governo, indústria, comércio e sociedade precisam estar envolvidos em uma resposta nacional adequada”, concluiu Assad. 

Mais informações: http://www.pbmc.coppe.ufrj.br/pt/
 

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