Pesquisadores de 32 nacionalidades estão reunidos em Campinas para participar da Escola São Paulo de Ciência Avançada em Proteômica baseada em Espectrometria de Massas (foto: Daniel Antonio Oliveira/Agência FAPESP)

Escola busca atrair jovens talentos em proteômica para o Estado de São Paulo
31 de agosto de 2017

Pesquisadores de 32 nacionalidades estão reunidos em Campinas para participar da Escola São Paulo de Ciência Avançada em Proteômica baseada em Espectrometria de Massas

Escola busca atrair jovens talentos em proteômica para o Estado de São Paulo

Pesquisadores de 32 nacionalidades estão reunidos em Campinas para participar da Escola São Paulo de Ciência Avançada em Proteômica baseada em Espectrometria de Massas

31 de agosto de 2017

Pesquisadores de 32 nacionalidades estão reunidos em Campinas para participar da Escola São Paulo de Ciência Avançada em Proteômica baseada em Espectrometria de Massas (foto: Daniel Antonio Oliveira/Agência FAPESP)

 

Karina Toledo, de Campinas  |  Agência FAPESP – A pós-doutoranda russa Olga Malyshevskaya, pesquisadora da Universidade de Tsukuba, no Japão, distribuía alegremente chocolates ingleses aos seus colegas participantes da Escola São Paulo de Ciência Avançada em Protetômica Baseada em Espectrometria de Massas no final da tarde de segunda-feira (28/8), em Campinas.

Os doces foram um prêmio oferecido pela britânica Kathryn Lilley, professora da Universidade de Cambridge e uma das palestrantes do evento. Depois de apresentar aos estudantes conceitos básicos de proteômica quantitativa – técnica que permite quantificar proteínas presentes em diversos tipos de amostras – e ensinar como planejar um experimento, Lilley os separou em times e os desafiou para uma competição.

“A cada time foi dada uma série de condições e eles deveriam avaliar se o experimento seria bem-sucedido ou não. Um dos principais problemas dessa área são experimentos mal planejados”, disse Lilley em entrevista à Agência FAPESP.

Realizado com apoio da FAPESP no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), o curso reúne pessoas de 32 nacionalidades e 65 instituições internacionais. São 90 doutorandos e pós-doutorandos – metade estrangeiros e os demais de 16 estados brasileiros –, além de 12 palestrantes cobrindo temas como proteômica baseada em descoberta e em alvos, proteômica quantitativa, proteômica estrutural e métodos computacionais e estatísticos aplicados à análise de dados proteômicos.

Entre os objetivos estão estimular o surgimento de novos núcleos de pesquisa em proteômica e atrair jovens talentos de todo o mundo para os laboratórios paulistas que atuam na área.

“O programa reflete o caráter amplamente multidisciplinar da proteômica baseada em espectrometria de massas, bem como a diversidade de aplicações dessa técnica em pesquisas que envolvem sistemas biológicos”, afirmou Adriana Paes Leme, pesquisadora do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) e organizadora da escola, que segue até o dia 6 de setembro.

Como explicou Paes Leme, a espectrometria de massas é atualmente a principal ferramenta usada nas análises proteômicas. Com essa tecnologia é possível identificar e quantificar proteínas tanto em misturas complexas, formada por milhares de moléculas diferentes, como um extrato de planta ou um soro humano, quanto em misturas simples.

Permite ainda localizar uma proteína dentro da célula, conhecer sua estrutura, identificar as moléculas com as quais ela interage, analisar modificações pós-traducionais, avaliar a interface e dinâmica de interação e, assim, compreender seu papel biológico tanto em uma condição de saúde como de doença.

Em seu laboratório, Paes Leme desenvolve métodos de proteômica para responder perguntas biológicas tanto de pesquisadores do LNBio quanto de usuários externos. Além disso, em sua própria linha de investigação, a proteômica é usada para entender a progressão do câncer oral e encontrar marcadores ou alvos terapêuticos que possam ajudar os médicos no diagnóstico e prognóstico da doença, bem como no planejamento da terapia.

“Como modelo de estudo temos usado amostras de sangue e de saliva de pacientes com câncer de cabeça e pescoço. Recentemente iniciamos também a coleta de lágrimas. Combinando diferentes estratégias de análise proteômica, buscamos entender vias de sinalização e descobrir alvos específicos para diagnóstico e tratamento”, explicou.

O pesquisador Vitor Faça, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), também busca entender a progressão tumoral por meio da técnica de proteômica dirigida – focada em um conjunto específico de proteínas. Ele é um dos palestrantes do evento realizado em Campinas e também integra o comitê de organização.

“Quando a célula passa de um tumor primário para um estado metastático, a expressão de proteínas se altera, bem como a localização dessas moléculas na célula. Por isso acreditamos que seria possível, eventualmente, desenvolver um kit de diagnóstico que permitiria ao médico avaliar o estágio da doença, separar indivíduos que têm ou não câncer, identificar subtipos específicos de tumor e até mesmo avaliar se a terapia está funcionando. Tudo isso por meio da análise das proteínas”, contou Faça.

O grupo de Ribeirão Preto usa como modelo linhagens celulares de vários tipos de câncer, principalmente ovário e pâncreas. A estratégia adotada é concentrar as análises em grupos de 20 ou 30 proteínas-chave em vez de avaliar o proteoma total das células.

“A vantagem dessa abordagem é que ela permite analisar um número muito maior de amostras. Estamos perto do Hospital das Clínicas da USP em Ribeirão Preto e dos clínicos. Eles nos trazem as amostras dos pacientes junto com uma pergunta e tentamos retribuir com algo que possa ter um resultado aplicável”, comentou.

Também integra o comitê organizador do evento e o grupo de palestrantes a pesquisadora do Instituto Butantan Solange Serrano. Como parte da equipe do Centro de Toxinas, Imuno-Resposta e Sinalização Celular (CeTICS) – um dos CEPIDs da FAPESP – ela busca desvendar a complexidade do proteoma de venenos de serpentes brasileiras, bem como entender sua evolução.

“Temos usado abordagens de proteômica para tentar entender a resposta dos organismos, tecidos e células em cultura quando desafiados por toxinas. Procuramos mapear os efeitos globais dos venenos e de suas toxinas isoladas com o objetivo de, talvez um dia, contribuir para o melhor tratamento dos casos de envenenamento”, contou.

Fomentando parcerias

Ao longo dos 10 dias de curso, os 90 participantes terão aulas teóricas e práticas com expoentes nacionais e internacionais na área de proteômica. Também terão a oportunidade de visitar os quatro laboratórios do CNPEM, as obras do Sirius – o acelerador de partículas de quarta geração previsto para ser inaugurado em 2018 – e as unidades da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) dedicadas a pesquisas em proteômica.

Para Malyshevskaya, que é formada em medicina e especializada em distúrbios do sono, o interesse na área está relacionado ao estudo de como diferentes tipos de canabinoides – naturais e sintéticos – alteram a atividade elétrica do cérebro.

“A proteômica baseada em espectrometria de massas é uma ferramenta muito útil e não são muitos pesquisadores da área de biologia e medicina que sabem usá-la”, contou.

Para Mohamed Elzek, que também é médico, o principal interesse é a área de proteômica clínica. Originário de Alexandria, no Egito, atualmente cursa doutorado na Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

“Eu acompanho o trabalho da equipe do LNBio há alguns anos, já tivemos colaborações e tenho interesse em novas parcerias com pessoas de várias partes do Brasil. É surpreendente ver a qualidade do trabalho que está sendo feito aqui”, afirmou.

Já o natalense Diego de Araujo Sabry, que atualmente cursa pós-doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, diz que o principal interesse no curso é o intercâmbio com pesquisadores de outros países.

“É uma oportunidade de ter contato com pessoas de referência na área de proteômica, abrindo a possibilidade de estabelecer colaborações e descentralizar a pesquisa na área, criando novos centros em regiões em que ainda não tem muito investimento, como o Nordeste”, afirmou.

Para Daniel Martins de Souza, que coordena o Laboratório de Neuroproteômica na Unicamp e integra o comitê organizador do evento, essa troca de experiência com alunos de diferentes instituições – brasileiras ou internacionais – permite ao estudante criar os primeiros nós de seu network científico.

“Isso vai sendo construído ao longo do tempo e é permanente por toda a carreira. Alunos brasileiros têm a oportunidade de abordar um dos palestrantes estrangeiros para ser seu orientador ou supervisor no futuro. Já os estrangeiros têm a oportunidade de perceber que São Paulo pode ser mais atraente do que eles pensavam para um pós-doutorado”, avaliou.

Como explicou Faça, o programa ESPCA tem como um de seus princípios atrair estudantes de diversos locais do mundo para conhecer a pesquisa do Estado de São Paulo.

“O conhecimento dos pesquisadores paulistas na área de proteômica, apesar de alguma deficiência instrumental, é bastante sólido. A escola tem o papel de trazer potenciais pós-doutorandos que poderão agregar valor aos nossos grupos. As universidades paulistas já atingiram um bom nível de maturidade. A pesquisa está sendo feita, os artigos, publicados. O objetivo hoje é alcançar a excelência”, disse.

Mais informações sobre a Escola: http://pages.cnpem.br/ms/ 

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