Pesquisadores tentam traçar o destino das partículas emitidas pela queima de biomassa e mensurar os efeitos do desmatamento no ciclo de mercúrio na floresta amazônica (focos de incêndio registrados por satélites entre 15 e 22 de agosto de 2019 / imagem: Nasa)

Grupo da Unicamp avalia impacto de queimada florestal na emissão de mercúrio
02 de dezembro de 2019
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Pesquisadores tentam traçar o destino das partículas emitidas pela queima de biomassa e mensurar os efeitos do desmatamento no ciclo de mercúrio na floresta amazônica

Grupo da Unicamp avalia impacto de queimada florestal na emissão de mercúrio

Pesquisadores tentam traçar o destino das partículas emitidas pela queima de biomassa e mensurar os efeitos do desmatamento no ciclo de mercúrio na floresta amazônica

02 de dezembro de 2019
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Pesquisadores tentam traçar o destino das partículas emitidas pela queima de biomassa e mensurar os efeitos do desmatamento no ciclo de mercúrio na floresta amazônica (focos de incêndio registrados por satélites entre 15 e 22 de agosto de 2019 / imagem: Nasa)

 

Maria Fernanda Ziegler, de Lyon | Agência FAPESP – Além da perda de biodiversidade e do impacto no clima global, o desmatamento provocado pelas queimadas na Amazônia lança na atmosfera, anualmente, algumas toneladas de mercúrio – um elemento altamente tóxico.

Tal fato tem sido estudado por pesquisadores do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (IQ-Unicamp) nos últimos 20 anos, em colaboração com instituições brasileiras e estrangeiras.

“As queimadas fazem com que o mercúrio que havia sido fixado na superfície terrestre pela floresta retorne para a atmosfera. Por ser muito volátil, esse elemento pode ser transportado em escala local, regional ou global. Pode vagar por até um ano antes de ser depositado em qualquer parte do planeta. Por essa razão o mercúrio é considerado um poluente global”, disse Anne Hélène Fostier, professora do IQ-Unicamp, em palestra apresentada na FAPESP Week France.

O grupo liderado por Fostier estuda o ciclo biogeoquímico do mercúrio para tentar descobrir o destino das partículas emitidas pelas queimadas. Para isso, os pesquisadores usam técnicas de espectrometria de massas multicoletor com plasma acoplado indutivamente (MC-ICPMS, na sigla em inglês).

O projeto, realizado em colaboração com o grupo francês liderado pelo professor David Amouroux, da Université de Pau et des Pays de l’Adour (França), tem apoio da FAPESP.

“Estamos tentando encontrar a assinatura isotópica do mercúrio. Essa é uma área de pesquisa nova, que cresceu rapidamente ao longo da última década graças aos métodos modernos de espectrometria de massa e outros equipamentos de alta sensibilidade”, disse Fostier.

Segundo a pesquisadora, a emissão de mercúrio na atmosfera cresceu muito nos últimos 200 anos. Estima-se que a concentração na atmosfera seja entre 300% e 500% maior que na era pré-industrial, devido, sobretudo, à queima de combustíveis fósseis, à mineração e ao desmatamento.

“Por se tratar de uma substância muito tóxica, diversos governos se preocuparam em assinar a Convenção de Minamata, destinada a limitar o uso desse elemento e as emissões [o nome faz referência a uma cidade do Japão em que ocorreram sérios danos à saúde como resultado da poluição por mercúrio em meados do século 20]”, disse.

Segundo a pesquisadora, na escala global, são emitidas 8 mil toneladas de mercúrio para a atmosfera todos os anos, sendo 2,5 mil toneladas de origem antrópica, 500 toneladas de origem natural e o restante corresponde às reemissões (casos em que o mercúrio havia sido fixado na superfície, mas retorna para a atmosfera).

“A floresta amazônica é muito eficiente na remoção de mercúrio atmosférico, sendo responsável por 23% de toda a deposição de mercúrio no mundo. No entanto, verificamos que incêndios florestais podem ser responsáveis por reemitir grande parte desse mercúrio”, disse.

Foi o que constatou um estudo dos pesquisadores da Unicamp, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp). A partir de medições realizadas em experimentos de queima controlada de áreas variando entre 4 e 40 mil metros quadrados, foi possível estimar que a floresta amazônica é responsável pela reemissão direta de 4 a 8 toneladas de mercúrio por ano.

Nessa mesma pesquisa, foram realizadas medições e projeções sobre a combustão de biomassa e a emissão dos gases de efeito estufa e de material particulado, sob a coordenação de João Andrade de Carvalho Jr, pesquisador da Unesp em Guaratinguetá.

Em outro trabalho, desenvolvido em colaboração com o pesquisador da City University of New York (Estados Unidos) Antony Carpi, o grupo mostrou que enquanto os solos cobertos pela floresta preservada não emitem mercúrio para a atmosfera, os solos desmatados emitem uma quantidade considerável. Na Amazônia, essas emissões representam anualmente 50% a mais do que aquelas resultantes da queima de biomassa.

“O estudo mostra que, quando há vegetação, a emissão é baixa. Já quando há desmatamento, o índice aumenta”, disse.

Fostier ressaltou ainda a importância de analisar o impacto das mudanças climáticas no ciclo de mercúrio na floresta amazônica. Dados da Nasa, a agência espacial americana, indicam que as atividades humanas estão reduzindo a umidade desse ecossistema, deixando-o mais vulnerável ao fogo e à seca extrema. O cenário, portanto, favorece o aumento das reemissões de mercúrio nos próximos anos.

O simpósio FAPESP Week France foi realizado entre os dias 21 e 27 de novembro, graças a uma parceria entre a FAPESP e as universidades de Lyon e de Paris, ambas da França. Leia outras notícias sobre o evento em www.fapesp.br/week2019/france/.
 

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