Documentos elaborados por 14 organizações – entre elas a Academia Brasileira de Ciências – pedem ações estratégicas de governos em desafios globais para os quais a contribuição da ciência faz a diferença (foto: Léo Ramos Chaves/Pesquisa FAPESP)

Academias de ciência do G-7 pedem atenção à pesquisa básica, saúde digital e proteção dos insetos
04 de junho de 2020

Documentos elaborados por 14 organizações – entre elas a Academia Brasileira de Ciências – pedem ações estratégicas de governos em desafios globais para os quais a contribuição da ciência faz a diferença

Academias de ciência do G-7 pedem atenção à pesquisa básica, saúde digital e proteção dos insetos

Documentos elaborados por 14 organizações – entre elas a Academia Brasileira de Ciências – pedem ações estratégicas de governos em desafios globais para os quais a contribuição da ciência faz a diferença

04 de junho de 2020

Documentos elaborados por 14 organizações – entre elas a Academia Brasileira de Ciências – pedem ações estratégicas de governos em desafios globais para os quais a contribuição da ciência faz a diferença (foto: Léo Ramos Chaves/Pesquisa FAPESP)

 

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Academias de Ciências dos países que formam o G-7, grupo que reúne as principais economias do mundo, e outras sete instituições – incluindo a Academia Brasileira de Ciências (ABC) – emitiram três declarações conjuntas sobre a necessidade de atenção dos governos à pesquisa básica, saúde digital e ao declínio das populações de insetos no mundo.

Os documentos seguem declaração realizada em abril, pelo grupo de Academias Nacionais proeminentes que formam o chamado G-Science, pedindo a cooperação internacional para responder à pandemia de COVID-19.

As declarações sobre os desafios globais devem servir como base na formulação de políticas para restaurar e sustentar o financiamento público da pesquisa básica, acelerar o uso de ferramentas digitais de saúde e responder aos declínios globais observados em relação à quantidade e à diversidade de insetos.

“São questões de extrema importância para os dias atuais e a Academia Brasileira de Ciências participou ativamente na construção desses documentos. Isso é importante, pois insere o Brasil na elaboração de estratégias com base em evidências científicas para grandes desafios globais. O fato de as declarações terem sido assinadas pelas academias de ciências mais respeitadas do mundo envia um forte sinal aos governos sobre a necessidade de cooperação internacional com foco nesses assuntos”, diz a professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Helena Nader, vice-presidente da ABC e integrante do Conselho Superior da FAPESP.

Além das academias de ciência da Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido – países que formam o G7 –, assinaram os documentos as academias de ciência do Brasil, China, Índia, Nigéria, Coreia do Sul e Indonésia. Também assina a Global Young Academy (Sociedade Internacional de Jovens Cientistas).

Nader colaborou para a construção da declaração sobre pesquisa básica . “É um documento que vem a calhar. Vimos, com a pandemia, que a valorização e o investimento público em pesquisa básica são essenciais para a resposta mais rápida e efetiva a grandes crises, mesmo que no Brasil, infelizmente, haja uma defesa de que não é necessário pesquisa básica, apenas a ciência aplicada”, diz Nader à Agência FAPESP.

No documento, é ressaltada a importância do investimento público em ciência básica para a criação de recursos humanos e capital intelectual que trazem benefícios a sociedade, como novos tratamentos e tecnologias. “É tudo o que precisamos agora”, diz Nader.

O G-Science sugere que países desenvolvam capacidades por meio da educação em STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática, na sigla em inglês). Destaca ainda a necessidade de fomentar a colaboração global e de compartilhar informações com o objetivo de acelerar descobertas, assim como apoiar a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento, como engenharia e ciências sociais.

De acordo com o documento, a pesquisa básica é mais importante agora do que em qualquer outro momento da história. Investimentos de longo prazo em ciência básica, portanto, tornam-se cruciais para enfrentar desafios atuais – como as mudanças climáticas, o impacto dos desastres naturais e o combate a agentes causadores de doenças – e, de acordo com o documento, para produzir ideias revolucionárias, essenciais para o progresso e a sobrevivência da sociedade.

“O câncer, por exemplo, não poderia ser eficazmente tratado antes que avanços fundamentais em genética e biologia molecular fossem alcançados”, afirma o comunicado.

Saúde digital

Outro tema estratégico defendido em documento do G-Science é a necessidade de que governos tenham consciência dos benefícios oferecidos pelas ferramentas da saúde digital. De acordo com o comunicado , o progresso da área da saúde depende da variedade de ferramentas digitais para registrar, organizar, armazenar, analisar e compartilhar informações, resultando no melhor gerenciamento e assistência médica de indivíduos e populações.

“Trata-se de uma capacidade que se tornou crítica para o controle da pandemia de COVID-19”, diz Nader.

O documento destaca a necessidade de colaboração sistêmica entre diferentes áreas do conhecimento, setores e países. Entre as prioridades para o desenvolvimento de ferramentas de saúde digital estão: a garantia de segurança cibernética, segurança e privacidade; desenvolvimento de padrões para interoperabilidade; e apoio à alfabetização em tecnologia da informação [IT literacy], compreensão do público e à ética.

População de insetos

Insetos fornecem serviços ecossistêmicos únicos e insubstituíveis, como a polinização, reciclagem e o fornecimento de nutrientes. Só em polinização, estima-se que o serviço realizado por abelhas e outros insetos no mundo tenha o valor de US$ 200 bilhões. Porém, o declínio na diversidade e na quantidade de populações de insetos demonstra a necessidade de maior atenção à preservação dessas espécies.

Dessa forma, o documento recomenda uma série de ações, incluindo o apoio ao monitoramento de longo prazo de espécies de insetos e biomassa para identificar estressores e proteger hábitats críticos em risco.

Além de Nader e Luiz Davidovich (presidente da ABC), participaram da confecção dos documentos o epidemiologista Mauricio Barreto (Universidade Federal da Bahia), Heimar Marin (Unifesp) e Geraldo Wilson Fernandes (Universidade Federal de Minas Gerais).
 

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