Perturbação introduzida em nuvem de átomos frios de rubídio produz fenômeno ondulatório similar ao da luz (imagem: Wikimedia)

Efeitos da turbulência quântica
18 de janeiro de 2018

Perturbação introduzida em nuvem de átomos frios de rubídio produz fenômeno ondulatório similar ao da luz

Efeitos da turbulência quântica

Perturbação introduzida em nuvem de átomos frios de rubídio produz fenômeno ondulatório similar ao da luz

18 de janeiro de 2018

Perturbação introduzida em nuvem de átomos frios de rubídio produz fenômeno ondulatório similar ao da luz (imagem: Wikimedia)

 

Victória Flório  |  Revista Pesquisa FAPESP – Quando submetidos a condições específicas que caracterizam os sistemas quânticos, os mesmos átomos que formam uma folha de papel, os seres vivos e as estrelas deixam de se comportar como partículas e passam a manifestar seu caráter de onda. Nesse estado, a matéria apresenta efeitos que violam a intuição clássica e os átomos podem atravessar barreiras antes intransponíveis.

Em experimentos recentes, uma equipe coordenada por pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP) constatou que uma nuvem de átomos do elemento químico rubídio, mantida super-resfriada e confinada, preserva aspectos de seu comportamento ondulatório mesmo depois de ter sido perturbada pela geração de vórtices e evoluir para uma condição de turbulência quântica.

Amostras de átomos nessas condições são bem conhecidas e estudadas, mas não se sabia qual seria o resultado da introdução de uma grande desordem nesse tipo de sistema.

Os pesquisadores descrevem, em artigo publicado em outubro na revista PNAS, que, à medida que a nuvem se expande, surge um padrão granular, o speckle, característico da interferência de ondas, como a que ocorre quando a luz laser é projetada em um anteparo. Na amostra de átomos resfriados de rubídio, o speckle apresenta a forma de manchas em três dimensões. No caso do laser projetado no anteparo, ele é bidimensional.

“Essa foi a primeira vez que se observou speckles tridimensionais”, explica o físico Vanderlei Bagnato, do IFSC, um dos autores do artigo e coordenador do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CePOF), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP.

O grupo da USP estuda um superfluido aprisionado, o condensado de Bose-Einstein, formado por uma nuvem de centenas de milhares de átomos de rubídio presa em uma armadilha magnética. Nesse sistema, os efeitos quânticos começam a aparecer quando ele é resfriado a temperaturas da ordem de 1 milionésimo de grau acima do chamado zero absoluto, zero Kelvin, ou 273,15 graus Celsius negativos. Nessa condição, o conjunto de átomos perde toda a viscosidade e se torna superfluido, um dos estados da matéria.

Para introduzir a turbulência quântica na nuvem, os físicos aplicam um campo magnético para induzir a formação de vórtices. Em seguida, desligam a armadilha e registram a expansão do condensado. É nesse momento de instabilidade que surge o speckle.

A equipe de São Carlos foi uma das pioneiras em introduzir turbulência no condensado de Bose-Einstein. Em parceria com colegas da Universidade de Florença, na Itália, os pesquisadores paulistas mostraram em 2009 que o condensado é um meio mais simples para estudar turbulência em superfluidos do que o hélio líquido, usado normalmente. O novo trabalho amplia as possibilidades de estudo do comportamento dos speckles tridimensionais e da turbulência quântica.

“Essa é uma situação nova em física, que poderá revelar efeitos ainda não investigados”, conta Pedro Ernesto Tavares, primeiro autor do artigo da PNAS. O padrão granular de manchas bidimensionais gerado por laser hoje é amplamente empregado para caracterizar superfícies de materiais.

O artigo Matter wave speckle observed in an out-of-equilibrium quantum fluid (doi: 10.1073/pnas.1713693114), de Pedro E. S. Tavares, Amilson R. Fritsch, Gustavo D. Telles, Mahir S. Hussein, François Impens, Robin Kaiser e Vanderlei S. Bagnato, está publicado em www.pnas.org/content/114/48/12691.full.
 

 

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