FAPESP e Fundação Maria Cecília Souto Vidigal apoiam pesquisas em desenvolvimento da primeiríssima infância (Foto:FMUSP)

Pesquisadores abordam diferentes aspectos do desenvolvimento infantil
14 de dezembro de 2016

FAPESP e Fundação Maria Cecília Souto Vidigal apoiam pesquisas em desenvolvimento da primeiríssima infância

Pesquisadores abordam diferentes aspectos do desenvolvimento infantil

FAPESP e Fundação Maria Cecília Souto Vidigal apoiam pesquisas em desenvolvimento da primeiríssima infância

14 de dezembro de 2016

FAPESP e Fundação Maria Cecília Souto Vidigal apoiam pesquisas em desenvolvimento da primeiríssima infância (Foto:FMUSP)

 

Diego Freire | Agência FAPESP – Dos 35 milhões de portadores do vírus HIV no mundo, 6,9 milhões são crianças. A maioria foi infectada por transmissão vertical, da mãe para o filho durante a gestação, na hora do parto ou pela amamentação. O vírus tem preferência por atacar células dos sistemas imunológico e nervoso, o que, nessas crianças, pode acarretar atrasos no desenvolvimento neuromotor e sociocognitivo.

Com o objetivo de contribuir para a implantação de um programa de acompanhamento do desenvolvimento de crianças expostos a esse risco, pesquisadores do Instituto de Saúde e Sociedade (ISS) do campus da Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) acompanharam 54 bebês nascidos de mulheres soropositivas atendidas pelo Núcleo Integrado de Atendimento à Criança de Santos, no litoral paulista.

O trabalho foi apresentado na FAPESP em 9 de dezembro, durante o II Seminário de Pesquisas sobre Desenvolvimento Infantil, e é uma das 15 pesquisas em andamento apoiadas pela FAPESP em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV).

“As pesquisas apoiadas estão na área do desenvolvimento da primeiríssima infância, da gestação aos três anos de idade, e são incluídas em três eixos temáticos considerados estratégicos para programas nessa fase da vida: qualificação do atendimento às gestantes e às crianças nos serviços de saúde, de educação infantil e de desenvolvimento social; governança, sustentabilidade e escala de programas voltados ao desenvolvimento integral na primeira infância; e avaliação de políticas e ações”, disse Walter Colli, membro da Coordenação Adjunta de Ciências da Vida da FAPESP.

As fundações mantêm desde 2010 um acordo de cooperação que já beneficiou 31 projetos de pesquisa científica, selecionados em três chamadas de propostas.

“O objetivo da FMCSV com essa parceria é aproximar a academia e o conhecimento científico das políticas públicas – algo que já acontece, mas que precisa ser cada vez mais incentivado e apoiado para que as pesquisas tenham impacto no desenvolvimento de políticas e que o trabalho dos gestores públicos seja orientado por evidências científicas”, disse Eduardo de Campos Queiroz, diretor-presidente da instituição.

De acordo com Cristina dos Santos Cardoso de Sá, do ISS-Unifesp, esse foi um dos objetivos da pesquisa Avaliação do desenvolvimento infantil de crianças filhas de mães soropositivas.

“Avaliar e acompanhar o desenvolvimento infantil de filhos de mães soropositivas em um serviço público de referência pode fornecer diretrizes para que políticas públicas de acompanhamento dessa população de bebês expostos ao HIV sejam desenvolvidas, permitindo detectar eventuais alterações e orientar pais e equipes de saúde”, disse.

De abril de 2014 a junho de 2015, foram acompanhadas e avaliadas 54 crianças na faixa etária de 0 a 42 meses, todas atendidas no centro de referência de Santos. As análises foram feitas por meio de avaliações do desempenho motor e cognitivo e por inventário de avaliação pediátrica de incapacidade, que fornece uma descrição do desempenho funcional da criança nas áreas de autocuidado, mobilidade e função social.

A divisão dos bebês foi baseada em marcos motores: controle da cabeça (de 16 dias a dois meses e 14 dias); junção das mãos na linha média (dois meses e 15 dias a quatro meses e 14 dias; capacidade de sentar com apoio (quatro meses e 15 dias a seis meses e 14 dias); sentar sem apoio (seis meses e 15 dias a oito meses e 14 dias); arrastar ou engatinhar (oito meses e 15 dias a 10 meses e 14 dias); ficar em pé com apoio (10 meses e 15 dias a 12 meses e 14 dias); manter-se em pé sem apoio (12 meses e 15 dias a 15 meses e 14 dias); andar de forma independente e chutar uma bola para frente sem ajuda (de 15 meses e 15 dias a 18 meses).

Os testes que mediaram o desempenho das crianças nas primeiras semanas de vida, de 15 dias a dois meses e meio, indicaram resultados inferiores aos esperados nessa fase. Já nas avaliações posteriores, o desenvolvimento do grupo estudado se aproximou do esperado para a idade, mas uma parte dos bebês continuou em defasagem.

“A maioria dos bebês não manteve baixo desempenho, mas os que mantiveram exigem um cuidado maior, pois apresentaram desempenho inferior especialmente nas avaliações cognitivas e de linguagem”, destacou Cardoso de Sá.

De acordo com a pesquisadora, o acompanhamento permitiu “maior compreensão sobre o desenvolvimento neuropsicomotor dos bebês e identificou que existe uma demanda para acompanhamento do desenvolvimento neuropsicomotor dessa população, suscitando na equipe a necessidade de uma avaliação mais rigorosa que forneça subsídios para o acompanhamento da saúde”.

Intervenção psicoeducativa

Também em Santos, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) avaliaram 180 alunos da educação infantil de quatro escolas da rede municipal com o objetivo de detectar e intervir precocemente nas dificuldades de linguagem e de comportamento das crianças.

“A intervenção o mais cedo possível em casos de dificuldades de linguagem e de comportamento pode evitar potenciais problemas na aquisição de competências acadêmicas e sociais”, disse Cristina de Andrade Varanda, uma das pesquisadoras envolvidas no projeto ”Identificação precoce de déficits de linguagem e dificuldades comportamentais para intervenção psicoeducativa como política pública de educação”.

As crianças foram avaliadas quanto aos seus vocabulários expressivo, relacionado às palavras que elas são capazes de reproduzir, e receptivo, que diz respeito ao seu entendimento da entonação, da melodia da voz do outro durante a fala e do significado das palavras em seus diferentes contextos. Também foram avaliadas habilidades de processamento auditivo central, relacionado aos mecanismos e processos realizados pelo sistema auditivo.

Das 180 crianças avaliadas, 90 foram submetidas a intervenção para o desenvolvimento e o aprimoramento da linguagem e o manejo de dificuldades comportamentais.

A intervenção foi feita por meio de atividades lúdicas, algumas delas desenvolvidas pelos pesquisadores em aplicativos para tablets. As atividades duraram três meses e foram realizadas na sala de aula, em horário escolar, por uma dupla de profissionais da equipe multidisciplinar com a participação e o apoio do professor titular.

A partir das avaliações e da intervenção, os pesquisadores elaboraram um material interativo para pais e professores, com orientações sobre desenvolvimento de linguagem, leitura e comportamentos, além de um website para a divulgação do projeto e disponibilização de materiais pedagógicos de suporte.

Foi formada, então, uma equipe multidisciplinar para orientar os profissionais das unidades municipais de educação infantil no maternal e no jardim na avaliação de crianças aos três e aos quatro anos de idade quanto a aspectos relacionados à linguagem e a comportamentos.

Também foram realizados encontros de formação com os professores e as equipes técnicas das escolas para o planejamento de intervenções junto às crianças que auxiliem no manejo das dificuldades detectadas pelas avaliações, abrindo possibilidade para implementação de uma política pública na educação municipal.

Mais informações sobre o trabalho e as demais pesquisas apresentadas no II Seminário de Pesquisas sobre Desenvolvimento Infantil estão disponíveis em www.fapesp.br/eventos/iifmcsv.
 

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