Flo Menezes (foto) utilizou software que distribui os elementos sonoros em um sistema de alto-falantes independentes, segundo trajetórias espaciais precisas (Foto:Studio PANaroma/Unesp)

Apresentada na Unesp obra eletroacústica que alude à história do universo
27 de setembro de 2016

Composição utilizou software que distribui os elementos sonoros em um sistema de alto-falantes independentes, segundo trajetórias espaciais precisas

Apresentada na Unesp obra eletroacústica que alude à história do universo

Composição utilizou software que distribui os elementos sonoros em um sistema de alto-falantes independentes, segundo trajetórias espaciais precisas

27 de setembro de 2016

Flo Menezes (foto) utilizou software que distribui os elementos sonoros em um sistema de alto-falantes independentes, segundo trajetórias espaciais precisas (Foto:Studio PANaroma/Unesp)

 

José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – “O verdadeiro aparece repentinamente sobre um fundo de erros; o singular, sobre um fundo de monotonia; a tentação, sobre um fundo de indiferença; o afirmativo, sobre um fundo de negações”: esta densa frase do filósofo francês Gaston Bachelard (1884 – 1962) forneceu o norte poético para a composição “Fond d’erreurs”, de Flo Menezes apresentada em pré-estreia, no dia 15 de setembro, no Studio PANaroma da Universidade Estadual Paulista (IA-Unesp).

Professor titular do Instituto de Artes da Unesp, Florivaldo Menezes Filho é o idealizador, fundador e diretor do Studio PANaroma. O centro, dotado de equipamentos de última geração, adquiridos ao longo de 20 anos com apoio da FAPESP, é considerado referência mundial no campo da pesquisa e produção em composição eletroacústica.

Com 21 minutos de duração, “Fond d’erreurs” deverá estrear para o público na 11ª edição da Bimesp – Bienal Internacional de Música Eletroacústica de São Paulo –, agendada para 5 a 16 de outubro deste ano no Teatro Maria de Lourdes Sekeff, da Unesp. O evento conta com o apoio da FAPESP.

Trata-se de uma composição para 16 canais de áudio que será projetada, na Bimesp, em 52 alto-falantes independentes, articulados por meio de sofisticado sistema computacional. Longe de ser uma peça descritiva, no sentido convencional da palavra, “Fond d’erreurs” alude, no entanto, à história do universo, tal como poderia ser poeticamente imaginada a partir do chamado Modelo Cosmológico Padrão, que incorpora o conceito de Big Bang.

Coincidentemente, a obra estava sendo composta quando foi anunciada, em 11 de fevereiro de 2016, a primeira detecção direta das ondas gravitacionais, previstas por Einstein há um século (Leia reportagem sobre o assunto em agencia.fapesp.br/22670/).

“A obra começa e termina com uma sonoridade grave, amorfa, quase indefinida, que sugere o fundo indiferenciado de que falou Bachelard. No meio disso, ocorre a eclosão de estruturas bem delineadas, e, até mesmo, de dois acordes de um quarteto de cordas”, disse Menezes à Agência FAPESP. “É como se, no grande arco narrativo da história do universo, houvesse, em dado momento, a emergência da cultura, e, no meio da cultura, a emergência da música”, completou.

O objetivo da pré-estreia foi aproximar o Studio PANaroma do Instituto de Física Teórica da Unesp. A audição contou com a presença do físico Rogério Rosenfeld [http://www.bv.fapesp.br/pt/pesquisador/29363/rogerio-rosenfeld/], diretor do IFT, além de outros integrantes da instituição, como o físico Nathan Jacob Berkovits.

O modelo que inspirou essa tentativa de intercâmbio foi o do Ircam (Institut de Recherche et Coordination Acoustique/Musique), de Paris, criado em 1969 pelo compositor Pierre Boulez (1925 – 2016). “Nesse instituto, que é a meca da música eletroacústica mundial, 67 físicos ou matemáticos trabalham em associação com os compositores. Até a indústria francesa se beneficia de suas pesquisas em acústica”, informou Menezes.

“Esta peça, ‘Fond d’erreurs’, foi a primeira produzida em nosso estúdio, que utiliza um software que venho desenvolvendo desde 2009 com apoio FAPESP, o MPSP [MusicPanSPace]. Trata-se de uma ferramenta para a composição de trajetórias espaciais sonoras. Foi composta em 16 canais, em um ambiente tridimensional, com um arco de octofonia no nível das orelhas dos ouvintes e outro arco de octofonia no teto. Todos os sons circulam pelo espaço, a partir de cálculos precisos, definidos por meio do programa. Na apresentação para o público, vamos adaptar a peça para a difusão eletroacústica em 52 alto-falantes, em vez de 16”, explicou o compositor.

Antes da audição, Menezes mostrou os equipamentos do estúdio e, em um grande display, exemplificou o funcionamento do MPSP. Por meio desse software é possível selecionar qualquer elemento musical, estocado em uma grande base de dados, e definir seus parâmetros de duração, altura, intensidade e distribuição espacial. E depois mixar os múltiplos elementos para compor a obra. “O parâmetro posição espacial foi praticamente descartado da música ocidental a partir do Renascimento, quando os conjuntos e depois as orquestras passaram a se posicionar em um lugar fixo à frente dos ouvintes. Os novos recursos tecnológicos permitem resgatar essa possibilidade, criando uma espacialidade na qual os ouvintes ficam totalmente imersos”, ressaltou.

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