Projeto Temático conduzido na Faculdade de Saúde Pública da USP organiza a catalogação de mosquitos do gênero Anopheles e aumenta em 76% o número de espécies conhecidas. Material servirá para pesquisa por diversos anos (Anopheles argyritarsis/divulgação)

Mosquitos catalogados e prontos para estudos
14 de janeiro de 2013

Projeto Temático conduzido na Faculdade de Saúde Pública da USP organiza a catalogação de mosquitos do gênero Anopheles e aumenta em 76% o número de espécies conhecidas. Material servirá para pesquisa por diversos anos

Mosquitos catalogados e prontos para estudos

Projeto Temático conduzido na Faculdade de Saúde Pública da USP organiza a catalogação de mosquitos do gênero Anopheles e aumenta em 76% o número de espécies conhecidas. Material servirá para pesquisa por diversos anos

14 de janeiro de 2013

Projeto Temático conduzido na Faculdade de Saúde Pública da USP organiza a catalogação de mosquitos do gênero Anopheles e aumenta em 76% o número de espécies conhecidas. Material servirá para pesquisa por diversos anos (Anopheles argyritarsis/divulgação)

 

Por Fábio Reynol

Agência FAPESP – Vetores de diversas doenças que atingem humanos, os mosquitos do gênero Anopheles ainda não são completamente conhecidos pela ciência. Espalhados por todo o Brasil, muitas espécies desses insetos estavam catalogadas dentro de um conjunto gênico ainda que apresentassem distinções morfológicas evidentes, verdadeiras lacunas entre os grupos.

Com o objetivo de aprimorar a organização taxonômica desses mosquitos, durante seis anos pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), em colaboração com outras cinco instituições, desenvolveram o Projeto Temático “Sistemática de Anopheles (Nyssorhynchus)”, apoiado pela FAPESP.

A pesquisa foi voltada aos subgêneros Nyssorhynchus e Anopheles darlingi e resultou na coleta de insetos em 19 estados brasileiros divididos em quatro regiões: Cerrado, Mata Atlântica leste, Mata Atlântica oeste e Amazônia.

Foram realizadas 659 coletas de 289 espécies totalizando cerca de 30 mil mosquitos. Do total, 20 mil exemplares foram congelados para pesquisas moleculares e 10 mil foram secos e depositados na Coleção de Referência da FSP-USP para estudos morfológicos.

“É uma quantidade imensa que servirá de material de pesquisa durante, no mínimo, dez anos”, apontou Maria Anice Mureb Sallum, professora na FSP-USP e coordenadora do Temático, que foi iniciado em 2006 e terminou em 2012. Nesse período, foi possível aumentar em 76% o número de espécies conhecidas ou linhagens foligenéticas do subgênero Nyssorhynchus.

O projeto descreveu formalmente quatro novas espécies e atualmente outras três estão em fase de descrição. Além dessas, quatro espécies foram retiradas da situação de sinomínia e 11 linhagens filogenéticas foram descobertas ou corroboradas. Ao todo 22 espécies ou linhagens filogenéticas foram acrescentadas ao subgênero que em 2006 contava somente com 29 espécies válidas.

Análises com marcadores moleculares confirmaram uma hipótese dos pesquisadores de que as populações do mosquito vetor, Anopheles darlingi, encontradas nas regiões Norte e Sudeste do Brasil pertenciam a grupos distintos. Nos estudos morfológicos foram observados os formatos das asas, o que permitiu detectar novas possíveis divisões das populações do inseto.

Para poder analisar a origem de cada inseto, as coletas foram georreferenciadas e as coordenadas incorporadas nos dados de cada amostra.

Outro cuidado da pesquisa foi analisar as variações morfológicas dentro da própria espécie. Para isso, foram realizadas reproduções em laboratório nas quais as fases de larva, pupa e ovo puderam ser comparadas entre elas, de modo a distinguir as variações normais entre irmãos e aquelas que indicam divisões entre espécies.

O trabalho contou com a tecnologia de sequenciamento genético aplicada em partes do genoma consideradas importantes na diferenciação de espécies. “É um passo inicial para que futuramente se faça o sequenciamento do genoma de diversas espécies de Anopheles”, disse Sallum.

No projeto atual, os pesquisadores fazem o sequenciamento do genoma mitocondrial de todas as espécies e linhagens filogenéticas detectadas até o momento.

Cooperação internacional

Além da equipe da USP, participaram do trabalho os pesquisadores Cecília Luiza Simões Santos, do Instituto Adolfo Lutz (IAL), Eduardo Sterlino Bergo, da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), e Mário Antonio Navarro da Silva, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O Temático ainda contou com dois colaboradores estrangeiros: Peter Foster, do Natural History Museum, Reino Unido, e Richard Wilkerson, do Smithsonian Institution, Estados Unidos.

A pesquisa também serviu de base para três trabalhos de pós-doutorado, cinco de doutorado e 11 dissertações de mestrado. Ao todo, nessas três modalidades, oito estudantes receberam Bolsas da FAPESP.

O irlandês Brian Patrick Bourke, um dos bolsistas de pós-doutorado do projeto, atualmente estuda na Mata Atlântica o mosquito Anopheles cruzii, vetor da malária, sob o contexto da genética da paisagem, que associa as características do ambiente às variações genéticas.

Bourke colabora para o projeto “Taxonomia morfológica e molecular e filogenia do subgênero Nyssorhynchus do gênero Anopheles (Diptera: Culicidae)”, iniciado em 2012, também coordenado por Sallum com apoio da FAPESP e que dá continuidade aos avanços alcançados pelo Temático.

A nova pesquisa enfatiza o mosquito Anopheles darlingi da Mata Atlântica. O objetivo é ir além dos estudos relacionados à saúde pública.

Sallum chama a atenção para o fato de a maioria dos estudos sobre mosquitos serem dirigidos às espécies que atuam como vetores de agentes infecciosos. “Isso resultou no equívoco comum de que os anofelinos como um grupo são bem conhecidos taxonomicamente”, disse.

A pesquisadora considera o conhecimento desses insetos fundamental para vários outros campos e por isso o estudo taxonômico deve ser amplo. “Os mosquitos têm muito a oferecer à ciência básica, por exemplo, como indicadores da biodiversidade Neotropical, do grau de degradação do meio ambiente natural, das diversas formas de uso do solo e para estudos de evolução e de especiação”, disse.

Os resultados obtidos também indicam que algumas espécies que foram consideradas vetores de Plasmodium em trabalhos anteriores, podem representar complexos.

“Dessa maneira, haveria a necessidade de se verificar quais espécies são os vetores reais e de se conhecer aspectos da biologia, ecologia, comportamento das mesmas e como elas participam da transmissão da malária”, disse Sallum.

De acordo com a pesquisadora, apenas uma minoria das 3.523 espécies de mosquitos conhecidas atualmente é praga importante para os seres humanos.

Resultados do projeto serão publicados em breve na revista PLoS One, no artigo Phylogenetic analysis and DNA-based species confirmation in Anopheles. Em outro artigo - A multi-locus approach to barcoding in the Anopheles strodei Subgroup (Diptera: Culicidae) - prestes a ser publicado na revista Parasites and Vectors, os pesquisadores demonstram que uma determinada espécie pode representar um complexo de quatro espécies.  

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