2ª Escola São Paulo de Ciência Translacional avalia como levar conhecimento do laboratório para a aplicação clínica. Foco desta edição é a medicina molecular voltada para câncer e doenças neurodegenerativas (Foto: Hospital A.C. Camargo)

Da bancada para o leito
21 de junho de 2011

2ª Escola São Paulo de Ciência Translacional avalia como levar conhecimento do laboratório para a aplicação clínica. Foco desta edição é a medicina molecular voltada para câncer e doenças neurodegenerativas

Da bancada para o leito

2ª Escola São Paulo de Ciência Translacional avalia como levar conhecimento do laboratório para a aplicação clínica. Foco desta edição é a medicina molecular voltada para câncer e doenças neurodegenerativas

21 de junho de 2011

2ª Escola São Paulo de Ciência Translacional avalia como levar conhecimento do laboratório para a aplicação clínica. Foco desta edição é a medicina molecular voltada para câncer e doenças neurodegenerativas (Foto: Hospital A.C. Camargo)

 

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Uma centena de pós-graduandos e jovens pesquisadores participam, desde o último domingo (19/6), da 2nd São Paulo School of Translational Science – Molecular Medicine: from bench to bedside (2ª Escola São Paulo de Ciência Translacional – Medicina molecular: da bancada ao leito), realizada pelo Hospital A.C. Camargo.

Até sexta-feira (24/6), os estudantes – metade deles brasileiros e metade provenientes de outros 13 países – poderão interagir com 30 dos principais especialistas mundiais de áreas ligadas à medicina translacional, um ramo da pesquisa médica que procura conectar diretamente a investigação científica ao tratamento dos pacientes.

O curso integra a modalidade Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) da FAPESP. A primeira edição da ESPCA de Ciência Translacional foi realizada em abril de 2010, também pelo Hospital A.C. Camargo, que é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP.

O evento é coordenado por Vilma Regina Martins, pesquisadora do Hospital A.C. Camargo, e Marco Antônio Maximo Prado, professor da University of Western Ontario (Canadá). De acordo com Martins, nesta edição o curso enfatiza duas áreas, sempre sob a perspectiva da medicina translacional: pesquisas relacionadas ao câncer e estudos sobre doenças neurodegenerativas.

“Mantivemos o tema do câncer, pois há muito a ser abordado nessa área. Mas, desta vez, metade do programa está voltado para neurociências e doenças neurodegenerativas, pois existem moléculas que estão relacionadas aos dois temas e sistemas. Existem também abordagens de estudos que podem ser aplicadas tanto para doenças neurodegenerativas como para o câncer”, disse à Agência FAPESP.

Outra novidade, segundo a pesquisadora, é que agora o curso tem um olhar especificamente voltado para a ciência molecular. O objetivo é avaliar como o conhecimento da ciência básica pode ser levado ao paciente.

“No restante, o objetivo da ESPCA é o mesmo: trazer estudantes de fora para que eles conheçam a ciência que fazemos em São Paulo e colocá-los em contato com estudantes brasileiros e pesquisadores internacionais”, disse.

Os resultados dessas interações permanecem a longo prazo, segundo Martins, provocando um efeito multiplicador no conhecimento. “As conexões que fazemos nesse momento inicial da carreira acabam permanecendo por toda a nossa vida acadêmica. Essas pessoas acabam se relacionando mais com grupos do exterior, gerando uma rede que dá uma importante visibilidade – para o hospital, para a FAPESP e para São Paulo”, destacou.

A ciência translacional, segundo Martins, procura diluir as separações estanques entre ciência básica e ciência aplicada. De acordo com ela, a realização do curso no Hospital A.C. Camargo se justifica, entre outras coisas, pelo acesso ao vasto banco de tumores disponível na instituição.

“É preciso fazer ciência básica, mas, quando se trabalha para entender um sistema biológico, isso sempre tem um grau de aplicabilidade. O banco de tumores do hospital é fundamental para a pesquisa translacional, porque é uma ligação direta com a parte clínica. Por ser muito bem organizado, ele permite que verifiquemos se nossas perguntas científicas são relevantes. Podemos buscar respostas em casos reais e correlacionar os dados com a história clínica dos pacientes, que está amplamente registrada”, explicou.

Proteína príon

A programação da ESPCA, dividida entre câncer e doenças neurodegenerativas, segundo Martins, está relacionada às atividades do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Oncogenômica e do INCT de Neurociência Translacional, do qual a pesquisadora fazia parte antes de atuar no Hospital A.C. Camargo. Os dois institutos têm financiamento da FAPESP e do CNPq.

Martins coordena o Projeto Temático Mecanismos associados à função da proteína príon e seu ligante STI1/Hop: abordagens terapêuticas”, apoiado pela FAPESP. O projeto tem também a participação de Prado, de Rafael Linden, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e de Iván Izquierdo, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Segundo Martins, é o terceiro Projeto Temático FAPESP coordenado por ela voltado para abordar as funções do príon – uma proteína altamente expressa na superfície das células do sistema nervoso. O príon ganhou notoriedade, há alguns anos, por estar associado à doença de Creutzfeldt-Jakob, uma patologia neurodegenerativa bastante rara, que nos animais é conhecida popularmente como “doença da vaca louca”.

“Só se conhecia o envolvimento da proteína príon com a doença, mas não se sabia por que ela é expressa com tamanha abundância no sistema nervoso. Nosso grupo trabalha há 14 anos na avaliação da função dessa proteína. Ela tem várias funções importantes e começamos a buscar – e encontrar – uma correlação com tumores do sistema nervoso”, disse.

Verificando a correlação, os cientistas começaram a perceber que a proteína príon poderia ser um alvo terapêutico para doenças neurodegenerativas. Utilizando os recursos de bancos de tumores, o grupo envolvido com o Temático verificou que a proteína príon e outras associadas a ela estão modificadas nos tumores do sistema nervoso.

“Essas proteínas trabalham na proliferação dos tumores. O que estamos conseguindo fazer é utilizar um peptídeo para modular a atividade da proteína príon para diminuir o crescimento dos tumores no sistema nervoso de camundongos. O trabalho está em andamento, mas a correlação foi confirmada. Estamos finalizando alguns experimentos em modelos animais e um artigo deverá ser publicado ainda em 2011”, disse.

Na próxima etapa o peptídeo deverá ser estudado a partir de uma abordagem farmacológica, a fim de testar sua efetividade, segundo Martins. Depois, será preciso trabalhar para modificar a molécula e torná-la mais eficiente.

“Nós injetamos o peptídeo no cérebro do animal. Se avançarmos nos testes, teremos que desenvolver uma via de administração mais plausível. Quando concluirmos toda a parte farmacológica do estudo passaremos finalmente aos testes clínicos”, explicou Martins.
 

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